Observatório Alviverde

15/08/2010

EU SOU UM IDIOTA DA OBJETIVIDADE!

Por meu gosto, no que respeita a forma de atuar de um time,  incluo-me  entre aqueles a quem Nelson Rodrigues definia como "idiotas da objetividade". Prefiro ganhar por 1 x 0 atuando com alma, raça e objetividade, do que jogar bonito, dar espetáculo e perder por 5 x 4.
Quem gosta de jogo bonito e de futebol-espetáculo é a imprensa que o cultiva e cultua porque a sua responsabilidade limita-se a constatações e análises. Não sei quem foi que disse, mas o disse muito bem que comentarista não perde jogo. É verdade, porque Neto está invicto até hoje. Jamais perdeu ou empatou um único jogo em que atuou como comentarista. O homem é um "jênio" e, melhor, com J de Jeca.
Um ou outro profissional arrisca a previsão séria, embasada em fatos concretos, em treinamentos ou em preparação dos times, mas 99% dos cronistas esportivos são meros palpiteiros ou analistas de resultado. Adoram retrospectivas, estatísticas  e a busca de fatos coincidentes ou parecidos de um ano para o outro, como se o passado interferisse decisivamente no presente e no futuro de técnicos, jogadores e equipes. PVC da ESPN, o maior decoreba da história da mídia,  é o melhor exemplo dessa bobagem e, por isso, é considerado um gênio pelos tantos bobocas que pululam na profissão.
Há ainda os que, despojados da mínima condição vocal ou do necessário talento para exercer a função, tentam aparecer incursionando  pelos desvãos do denuncismo barato como se fossem eles os únicos donos da verdade e os detentores exclusivos da ética e da moral, mas que não conseguem ir ao ar sem pronunciar por incontáveis vezes o nome do time pelo qual torcem e promover uma verdadeira lavagem de marketing na cabeça dos ouvintes evidenciando um facciosismo doentio pela promoção de sua equipe de coração. Leia-se Juca, o maior de todos os gambás e pretenso líder de classe.
No tempo em que fui comentarista de rádio e tv e, modéstia à parte, disputando sempre o topo da audiência, adotei o seguinte sistema. Ao comentar escalações ou situações de jogo e substituições de jogadores com as quais não concordava, eu explicava porque o treinador estava, sob o meu ponto de vista, errado. Então argumentava expondo minhas as razões, deixando que o desenvolvimento do jogo apontasse quem tinha razão.
Em pleno ar propunha uma "aposta" com o treinador. Afirmava que se o time ganhasse ou, ainda que perdesse,  mas se desenvolvesse um bom futebol, que se as alterações e substituições contrárias ao meu ponto de vista surtissem efeito, o técnico estaria certo e o errado seria eu.
 Fico feliz por haver ganho essas "quedas de braço" de 70 a 80% das vezes. Mas as perdi entre 20 a 30%. Nessas oportunidades, tive sempre a humildade de dizer que os técnicos tinham razão, conferindo-lhes, publicamente, todos os créditos e os elogios que mereciam, em detrimento de meu próprio prestígio junto aos menos escolarizados que não estavam acostumados a assistir a retratações e a confissões de erro por parte dos hoemns da imprensa. 
Já fui partidário ferrenho do futebol bonito e bem jogado. Era assim antes dos anos 70s, que representam, o ápice da beleza do jogo, o apogeu do futebol arte. A melhor referência dessa época, foi, indubitavelmente, a Seleção Brasileira campeã mundial de 1970, conquanto existissem no Brasil muitas equipes com esse perfil.
Mas eu lhes asseguro que nem o Santos de Pelé, o Botafogo de Garrincha, nem o Cruzeiro de Tostão e Dirceu Lopes, nem os fantásticos time do Palmeiras daquela época de ouro, primeiro com Djalma Santos e Julinho e, depois, com  Dudu e Ademir da Guia, ombrearam-se àquela fantástica e inesquecível seleção.
Porém o romantismo  do futebol foi sepultado pela Copa de 74, com o surgimento de uma nova máquina de jogar futebol, a Seleção da Holanda, com um jeito novo de atuar, inédito e inaudito, cujos maiores méritos residiam na proposta de um futebol com 10% de inspiração (essa inspiração chamava-se Cruyff) e 90% de transpiração, corporificados pela formidável presença física e atlética de uma equipe envolvente, superobjetiva, fisicamente forte, preparadíssima, aplicadíssima, que corria o tempo todo e ocupava em velocidade todos os espaços do campo. Com justa razão, apelidaram-na de "laranja mecânica".
Mesmo essa equipe espetacular esbarrou no futebol pragmático da Alemanha uma equipe mais madura, mais ajustada, tão forte fisicamente quando a Holanda, dotada de um goleiro que entra na relação dos maiores de todos os tempos, Sepp Meyer, de um dos maiores artilheiros de todas as Copas, Gerd Müller e do kaiser Beckenbauer líder inconteste da grande vitória alemã.
A influência da Copa de 74 foi imediata no futebol mundial e todo mundo queria jogar como a Holanda, mas ninguém jamais conseguiu.
No Brasil, inspirado pela Holanda e pela Alemanha, Rubens Minelli, sob o meu ponto de vista, montou o time mais eficiente de todos os tempos em campeonatos brasileiros, o Inter de Manga, Figueroa, Carpegiani, Falcão, Valdomiro, Batista, Lula, um grupo de invejável condição atlética, que também corria o tempo todo, preparado por um profissional que revolucionou a preparação física no futebol brasileiro, Professor Gilberto Tim.
É óbvio que esse time, tinha talentos, mas talentos adaptados ao jogo coletivo e à tática, com a aplicação e imposição mais perfeita da linha de impedimento de que se tem notícia até hoje em todo o futebol mundial.
Falando de forma desapaixonada eu diria que o Inter de 75 e 76 foi o melhor time que apareceu neste país após a Copa de 74. Nem o Flamengo de Zico, com todos os seus talentos individuais, nem o Galo Mineiro de 77, nem o Palmeiras da Parmalat dos anos 90s chegaram ao nível do colorado gaúcho dessa época, um time quase imbatível.
A partir daí e das teorias corretas de Minelli a respeito na necessidade da prevalência de jogadores altos e fortes como arcabouço de um bom time de futebol que dei-me conta de que vivíamos uma outra era e que fora imposto um novo "establishment" no futebol mundial que, aliás,  perdura até hoje. Mirem-se no exemplo da última Copa. Só não afirmem que a Espanha e a Holanda jogaram ofensivamente pois isso é ridículo. Digam, por favor, que eram equipes mais bem balanceadas e equilibradas do ponto de vista tático com três ou quatro expoentes individuais, principalmente no ataque.
O Palmeiras não pode e nem deve embarcar na onda nostálgica que está tomando conta da crônica esportiva, cujo espelho é o atual time do Santos FC e que, agora, lança a moda dos times eminentemente ofensivos. Essa nova formatação, esse novo modelo, esse novo modismo que alguns cronistas ditos de vanguarda estão tentando impor ao futebol brasileiro a partir do jovem time do Santos, não passa de um sonho quimérico e, sobretudo, utópico.
Pode-se, sim, e é o que Mano, certamente, vai fazer na Seleção, criar-se um esquema responsável, com mais vocação ofensiva a partir das características dos jovens santistas, nada mais do que isso. O resto é delírio midiático.
O Palmeiras de Scolari mostrou-se promissor após a  boa vitória de ontem contra o Atlético do Paraná. Foi sólido na defesa a partir do retorno de Marcos, da formação com três zagueiros com Maurício Ramos, Danilo e o estreante  Fabrício, do deslocamento de Márcio Araújo para a lateral, da entrada do garoto Tinga, da titularidade de Marcos Assunção e do esforço de Rivaldo. Faltou-nos ataque pois Tadeu jogou muito pouco e Luan, enfiado, não rendeu o que rende cambando pelos lados do campo. Com as próximas entradas de Valdívia e Kléber, o Palmeiras terá o toque técnico de que precisa para alcançar, consequentemente,  objetividade e força de ataque e capacidade para a feitura de mais gols..
O hibridismo tático-estratégico, decorrente da amálgama técnica e força física, obsessão de Scolari em busca do time ideal, está prestes a ser conseguido. Basta que Valdívia, Kléber e até Lincoln passem a reunir condições físicas ideais para entrar em campo, dando nova cara a esse novo Palmeiras colimado por Scolari.
Com o retorno dos bons resultados e com o ajuste do time, aí sim eu poderei responder aos delirantes sonhadores de um passado que não volta mais, a Nelson Rodrigues e aos seus seguidores: "não existem mais times vencedores sem a necessária força física. Nem esse jovem e bom time do Santos que ganhou o Paulistão jogando bonito, mas que contou com substancial ajuda das arbitragens, mormente nas finais quando esbulharam o Santo André. Diga-se, en passant que a maior parte da imprensa foi conivente e cúmplice com as falcatruas arbitrais , sob a justificativa da prevalência do sonho de um pretenso futebol-arte. Inexplicável conveniência de uma classe que quase não pensa, apenas delira ao sabor de seus interesses imediatos, com raríssimas e honrosas exceções. 
O Palmeiras tem de ser forte, coeso, entrosado, dotado do espirito de vencedor para conseguir, na prática, os resultados que a torcida tanto espera. De nada adianta jogar bonito e perder. Jogar bonito tem de ser, apenas, uma consequência.
 Só pensam em jogo bonito antes das vitórias,  os plantadores de quimeras ou os "idiotas do abstrato".

6 Comentários:

  • Às 15 de agosto de 2010 às 15:47 , Anonymous Anônimo disse...

    Magnífico,
    Parabéns!

     
  • Às 15 de agosto de 2010 às 21:15 , Anonymous SERGIO disse...

    ..
    ALCIDES...

    Ótimo texto, ÓTIMA análise.

    Creio eu, que o Felipão pensa muito parecido com tudo que vc relatou.

    Se der p/ vencer jogando bonito, muito que bem, mas se não der tb está ótimo - vencer é o que importa.

    A imprensa que se lasque.

    Boa noite!!!
    ..

     
  • Às 15 de agosto de 2010 às 22:37 , Anonymous Edson disse...

    O futebol bonito e bem jogado é sempre lembrado, mas o que fica mesmo marcado é o título. Esse papo de que as seleções do Telê são mais lembradas do que as outras é furado.
    A sua análise sobre a imprensa esportiva foi excelente e a frase que a define poderia ser a seguinte:falar é fácil, pois é só assoprar e mexer a boca.

     
  • Às 16 de agosto de 2010 às 10:31 , Anonymous Mestre dos Magos disse...

    Bom dia Alcides e demais companheiros.

    Mesmo estando em condições físicas, Valdívia, Kléber e Linconl, ainda assim falta elenco, em especial um grande atacante e mais um meia armador de qualidade.

    Talvez seja até por isso que Felipão não quis insistir na antecipação da volta do Valdívia que, já está apto fisicamente (não documentalmente pra variar) e poderia jogar contra o Vitória por exemplo.

    Felipão deve tá naquela: - Se antecipo e o cara estoura, tô fu. Então prefiro não arriscar, já que não tem outro.

    Em meu ponto de vista, precisamos um grande atacante e mais um meia armador, daí sim, fecha o elenco com a subida de alguns da base.

    E sobre o Delírio Tremens da imprenssa, minha opinião é bem particular, pois eu sustento que o Santos sem ROBINHO, será o Santos normal e igual ao que tomou 3x1 do Avaí em sua própria casa.

    O tal de Madson vai ter que engolir, que muita gente não vai sentir falta de Robinho, inclusive ele mesmo.

    Acho inclusive, que torcida do Santos não dá o merecido valor a esse jogador.

    Só vai cair a ficha quando os resultados começarem a ser cada vez piores.

    Em nossa própria torcida, embora tardde demais, perceberam o quanto de falta de fez o Valdívia depois que saiu.

    E isso talvez explique essa idolatria tardia, em vê-lo de volta.

    Futebol também é espelho da vida real.

    As vezes uma pessoa só tem verdadeiro valor quando morre, enquanto outros morrem, sem ao menos deixarem um vestígio de saudades.

    É só comparar Valdívia e Keirrison.

    Saudações Alviverdes de coração a Todos.

     
  • Às 16 de agosto de 2010 às 18:27 , Anonymous Mestre dos Magos disse...

    INFORMAÇÃO

    O Porto desistiu do nosso zagueiro Danilo e agora mira Miranda.

    Em contrapartida, o Bari estaria disposto a pagar 5 milhões de euros pelo nosso zagueiro de 26 anos.

    Não sei exatamente quanto é a parte do Palmeiras, mas é duro segurar, não acham?

    Grande abraço.

     
  • Às 16 de agosto de 2010 às 22:24 , Anonymous Marcelo disse...

    Hola, que tal?

    Aqui em santa está assim.

    Olho neles!
    Presidente do Corinthians, André Sanches, uma espécie de Vicente Matheus de hoje, disse ontem em Floripa que o seu time veio buscar os atacantes Roberto e Vandinho do Avaí. Se não os dois, pelo menos um deles. Se não para esse ano, para o ano que vem.

    O Santos está fazendo propaganda na RBS para amealhar sócios!!

    E o nosso Palmeiras??

     

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