O PALMEIRAS DOS BRASILEIROS, DOS ITALIANOS, DOS NEGROS E DE TODAS AS RAÇAS...
A minha vivência prolongada neste mundo de Mamon, a minha passagem de 40 anos como jornalista esportivo, na maior parte da carreira líder de equipes esportivas, tanto e quanto a minha leitura, análises da vida e a longa militância no mundo do futebol fazem-me entender e, sob alguns aspectos, explicar o Palmeiras melhor do que a maioria das pessoas.
Para início de conversa, adianto-lhes que o Palmeiras de 2.017 só não é o clube mais popular do Brasil em face da conduta secular incorreta e pouco inteligente, da "Sociedade Esportiva" que o gere, até os dias de hoje.
Há 50 ou 60 anos, a vaidade e a discriminação racial velada já norteavam o espírito daqueles que ocupavam os cargos diretivos no clube, com exceções, claro.
A diferença é que os dirigentes daquele tempo, colocavam o clube e não eles próprios em primeiro lugar.
Hoje, noves fora Paulo Nobre e um ou outro porco pingado, o interesse e a ambição têm sido (exclusivamente) o que ainda os atrai. Um certo otomano confirma, em plenitude, a minha teoria.
Infelizmente, mesmo os idealistas daqueles tempos aos quais aludi, eram, em maior parte, cheios de si, profundissimamente orgulhosos e carregados de discriminações, notadamente duas, a social e a racial.
Faltou aos dirigentes do passado, cujas visões, limitadíssimas, circunscreviam-se às alamedas e dependências do antigo Parque Antártica, a chamada antevisão dos tempos, ou, em outras palavras, uma visão futurística.
Grande parte dos problemas atuais do Palmeiras decorre daí, até o "bullying" imposto ao clube que conquistou o mais difícil dos Mundiais até hoje disputados, o de 1952 esquecido e não reconhecido.
A italianada autossuficiente e incompetente, jamais promoveu a conquista no âmbito popular.
O fez apenas internamente com banquetes, jantares e homenagens à data e aos ex-jogadores.
Nunca divulgaram, proclamaram ou escreveram em lugar algum, nem na própria camisa do clube, que o Palmeiras houvera sido o primeiro Campeão Mundial.
Em passant:
Ainda há tempo e condições para resgatar a conquista, bastando colocá-la na camisa para que, consequentemente, apareça na TV em horário nobre para efeito de divulgação, posto que a FIFA reconheceu oficialmente a conquista palmeirense.
Mas cadê o descortino, a perspicácia, a sensibilidade e, sobretudo, a coragem para fazê-lo?
Por que o Galo Mineiro é considerado o primeiro campeão brasileiro em 1971, quando se sabe que o Palmeiras houvera ganho a Taça de Prata e o Robertão primeiras denominações iniciais do Campeonato Brasileiro, em 1967 e 1969?
É que o Galo, sentindo que o Palmeiras não ocupou o espaço, autoproclamou-se "primeiro campeão brasileiro".
A diferença entre o AtléticoMG e o Palmeiras, é que o time mineiro já tinha, naquela época, um atuante departamento de marketing, comandado por Inês Helena, a mesma profissional que houvera alavancado e divulgado em termos nacionais e internacionais a imagem do concorrente, Cruzeiro EC.
Tudo o que divulgamos neste espaço, explica o fato de o Palmeiras não ter o maior contingente de torcedores da região denominada Grande São Paulo, isto é, a capital e adjacências.
Essa, talvez, seja a diferença que separa o Verdão do Curica em número de torcedores, considerando-se a flagrante supremacia palmeirense no interior, que somente a mídia não vê ou, se vê, não menciona ou liga qualquer importância.
Da mesma forma, pode-se dizer que essas atitudes acabaram se tornando os fatores responsáveis pelo formidável crescimento dos Bambis nos cenários esportivo, paulistano, paulista e brasileiro.
Para os dirigentes dessas épocas, as pessoas de pele mais escura eram motivo para gozações, ridicularizações, achincalhes, comparações com macaco e completo desprezo, não sendo -jamais- aceitas como jogadores e torcedores do Palmeiras, quanto mais como sócios do clube. Eu vi, ouvi e sou testemunha disso!
Por isto, todo o negro que não tinha afinidades com o Curica, passava, de forma automática, a torcer pelos Bambis, cujos dirigentes, muito mais sensíveis e inteligentes, tiveram o descortino de ir buscar no Rio de Janeiro Leonidas da Silva, o Diamante Negro, o maior jogador brasileiro das décadas de 30 e 40 com quem a torcida negra de São Paulo, resistente ao Curica, imediatamente, se identificou.
Para que se tenha uma ideia da gravidade do problema, basta que eu diga que o primeiro negro retinto que eu vi vestir a camisa do Palmeiras foi o atacante Paulinho, contratado ao Flamengo em meados da década de 50, que chegou e arrasou em dois jogos contra o Curintia, ajudando a quebrar um tabu de nove anos sem vitória numa histórica goleada de 4 x 0 em que o negro carioca marcou dois gols.
Antes eu só houvera ouvido falar ou visto um ou outro mulato disperso jogando no Verdão, como Valdemar de Brito, o descobridor de Pelé, que, enquanto jogador, dizem, aplicava talco ou pó-de-arroz no rosto antes dos jogos para minimizar a negritude e, além dele, Liminha (mulato claro).
O "start" oficial para a contratação de negros foi acionado em 1959 quando o Palmeiras foi buscar o fabuloso Djalma Santos na Portuguesa de Desportos, considerado por muitos (eu, inclusive) o melhor lateral do futebol brasileiro de todos os tempos.
Em sua biografia Djalma declarou que ao ser procurado por um representante palmeirense ficou estupefato, sem acreditar no que ouvia e disse ao seu interlocutor exatamente isto "mas eu fiquei sabendo que eles não gostam de negros por lá..."
Era verdade, mas a partir da construção da primeira academia, o Palmeiras não parou mais de contratar jogadores de pele negra e pode-se dizer que se deu bem com 90% dos contratados.
Isto, ainda bem, virou rotina e a discriminação velada que obnubilou, um dia, a vida do Palmeiras foi "à tonga da mironga do kabuletê" uma espécie de pqp no africaníssimo idioma sudanês, o nagô!
Neste fim de ano, na ausência de eventos envolvendo os profissionais, vejo, com muita alegria, que predominam na base alviverde os chamados jogadores de cor que têm dado tantas alegrias à coletividade verde.
Da mesma forma, é impressionante a multiplicação da torcida negra do Palmeiras, nestes tempos em que a humanidade amplificou seus melhores sentimentos.
Sejam muito bem-vindos todos os negros inteligentes que ousaram adotar o Palmeiras como time de coração!
ALCIDES DRUMMOND
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