HOMENAGEM PÓSTUMA A DJALMA SANTOS! O PALMEIRAS PERDEU UM DE SEUS MAIORES SÍMBOLOS!
Prezadíssimo Tredenski.
Aceito a sua sugestão e falo sobre Djalma Santos, o maior lateral direito brasileiro da história.
Não farei uma postagem ampla, mas abordarei alguns aspectos interessantes da vida desse extraordinário atleta, um gentlemen, um homem com H maiúsculo que honrou e dignificou a profissão de jogador de futebol.
Diziam que Djalma era mineiro, mas o fato é que ele nasceu em São Paulo, capital, em 1929.
A falsa idéia de que ele teria nascido em Minas decorre, certamente, de seu jeito calmo e polido e de sua forma branda e conciliatória de viver sem jamais se envolver em polêmicas, fofocas ou confusões.
Focadíssimo em seu trabalho, disciplinado dentro e fora de campo, recebeu o Belfort Duarte, premio que a antiga CBD, depois CBF outorgava àqueles que conseguiam terminar a carreira sem a mácula de uma expulsão.
Do ponto de vista técnico Djalma Santos é tido pela maioria da crônica como o melhor lateral direito da história do futebol brasileiro.
Entretanto, não alcançou a unanimidade das opiniões e preferências, certamente pelo fato de jogar pelo Palmeiras, clube historicamente perseguido e odiado pela maior parte da mídia. Naquele tempo já era assim!
Apesar de tudo, jamais se discutiu a sua condição de craque!
Os detratores palmeirenses da mídia fizeram de tudo para não admitir Djalma como o maior jogador brasileiro em sua posição, mas foram obrigados a recuar porque o mundo afirmava isto.
O máximo que conseguiram foi encontrar um único lateral brasileiro que poderia ser comparado ao já velho Djalma, superdimensionando-lhe as virtudes e, mentirosamente, atribuíndo-lhe capacidade superá-lo, Carlos Alberto Torres.
De fato, Torres foi um lateral espetacular, cujo estilo, em muitos aspectos, fora copiado do próprio Djalma, principalmente no que respeitava ao apoio ofensivo, raríssimo entre os laterais da época.
Mas, se ganhava de Djalma em arranque e força física, haja vista que surgiu no cenário esportivo a partir de quando Djalma já atingira quase que 3/4 da carreira, perdia, e muito, em posicionamento, em condição técnica e, principalmente, em virtuosismo.
Vi os dois em ação, muitas vezes, muitas vezes Djalma, muito mais vezes Torres.
Embora muito produtivo, Torres sempre foi um lateral que assinava um futebol de muita força física, que os cronistas da época - nem todos - chamavam de prático, sempre realçando-lhe a disposição, mas relevando ou ignorando, sempre, a sua condição de utilização da força acima da necessidade, o que, mais modernamente, chamam de força desproporcional.
Conquanto um lateral espetacular, Torres foi um dos grandes botineiros da história do futebol brasileiro, impondo-se, ao contrário de Djalma, muito mais pela força física, pela valentia e, até, muitas vezes, pela deslealdade.
Por essa razão e pelo excesso de virilidade em campo, o coloco longe da classe de um lateral singular, eminentemente clássico como Djalma, um virtuose, um artista da bola que, anos antes, atuando em apenas um jogo na Copa de 58 na Suécia, conseguiu ser eleito o melhor jogador da posição.
Assisti a inúmeros jogos de Djalma, o primeiro deles em 196o em Araraquara, quando o Palmeiras, com uma atuação extraordinária de Chinesinho - melhor que Ademir da Guia - encaçapou 3 x 0 na Ferroviária.
Lembro-me, perfeitamente, dos toques mágicos de Djalma no trabalho de aquecimento que era realizado com bola, dentro de campo pelas duas equipes.
Nessas ocasiões os atletas mostravam classe e exibiam as suas habilidades, quer brincando de "altinho", quer passando a bola com estilo, matando ou tocando de primeira para alguém mais longe, ou "tenteando" a bola para colocá-la sobre o pescoço.
O termo "tentear", definia, para os paulistas, a embaixadinha, vocábulo incorporado no futebolês pela crônica carioca no início dos anos 70, inicialmente como embaixada.
Até hoje procuro, etimologicamente, a raiz dessa palavra e de onde teria provindo. Quem souber, por favor, crave, que eu desejo aprender.
Tenho um pensamento a respeito da razão do surgimento dessa nomenclatura, que nada tem a ver com embaixadas ou embaixadores. Creio que a palavra deveria ser cravada com a separação dos termos em e baixada porque a bola, quando vem de cima para baixo é chutada novamente para cima.
Talvez esta gíria, cuja invenção tenha ocorrido em alguma comunidade carioca tenha entrado no futebolês pela porta dos fundos dos treinamentos das equipes de futebol profissional.
A propósito, tudo isso foi dito para evidenciar que Djalma era o rei das embaixadas naquela festa preambular que foi roubada do torcedor brasileiro quando da entrada das equipes em campo, que também servia como mostragem de quem iria começar o jogo, antes e depois da introdução da regra 3.
Num desses trabalhos de aquecimento em que abriu-se uma enorme roda de passes, lembro-me de um lance especial de Djalma:
A bola foi chutada forte e rasteira em direção a Djalma que rebateu de uma forma tal em que a bola rolou em direção ao companheiro, mas acabou fazendo marcha a ré, retornando aos pés de Djalma, após ter seguido por dois ou três metros, fazendo o público ir ao delírio antes mesmo de começar o jogo.
Hoje sei que fazem isso até com facilidade, principalmente no futsal, mas o precursor da jogada foi Djalma e ninguém pode ignorar feito ou deixar de registrar, haja vista que todos aprenderam com ele.
O lance mais espetacular da história do Mineirão em todos os tempos, ocorreu quando o Palmeiras inaugurou o estádio vestindo a camisa da Seleção no longínquo ano de 1965.
Uma bola fortíssima foi cruzada em diagonal para o ponta esquerda uruguaio, aberto, pelo costado de Djalma.
Djalma deu um passo atrás, escorou o chute fortíssimo com a cabeça a uns três metros da linha de fundo e saiu fazendo embaixadas com a cabeça até ultrapassar o meio de campo, ante o olhar estupefato dos uruguaios e a vibração extraordinária da torcida mineira que jamais vira lance semelhante em qualquer de seus estádios.
Por volta de 1966, já trabalhando como repórter esportivo, tive o imenso prazer de entrevistar Djalma que compreendo a minha condição de neófito, com pouquíssima rodagem na profissão, foi extremamente gentil comigo, concedendo-me uma sonora exclusiva.
O instante teria sido perpetuado com uma foto, não houvesse o fotógrafo me avisado que a a única foto que "queimara", isto é, que não saiu, foi aquela em que posei ao lado de Djalma. Lamentavelmente!
A passagem de Djalma da Portuguesa, onde era ídolo, para o Palmeiras foi um fato interessante. Alguém - parece-me que Julinho Botelho, o meu maior ídolo no futebol (jogou mais, muito mais do que Garrrincha que esquentou banco pra ele) - disse a Djalma que o Palmeiras queria contratá-lo.
Djalma disse que não acreditava porque sabia que o Palmeiras não aceitava negros no elenco e não sabia como seria recebido pela torcida.
Dizem que ele foi o primeiro negro retinto a vestir nossa camisa, mas isso é apenas uma lenda.
Antes de Djalma e de tantos mulatos como Valdemar de Brito, o descobridor de Pelé, ou do inesquecível Liminha, o Palmeiras teve Paulinho contratado junto ao Flamengo, atacante com raro faro de gol, da geração rubronegra que revelou Joel, Moacir, Henrique Frade, Duca, Babá e o extraordinário Edivaldo Alves Santa Rosa, o Dida, muito melhor que Zico, ao menos em meu entendimento.
Paulinho estreou ao lado de Enio Andrade e Chinesinho e marcou dois gols sobre o Cu-rintia na goleada de 4 x 0 que marcou o final da hegemonia curintiana de nove anos sem perder do Palmeiras, quando Paulinho assinalou dois gols e foi o melhor em campo.
Djalma Santos acabou indo para o Palmeiras através do saudoso Delphino Fachina (se não me falha a memória) tendo jogado no Verdão de 1959 a 1968, sendo o Palmeiras o clube pelo qual mais jogou, tendo vestido a nossa camisa quase 500 vezes.
No ano em que chegou já levou o Palmeiras ao título paulista, o supercampeonato de 1959, o mais importante e mais difícil campeonato da época, o Paulista, maior e mais importante para o público coestaduano do que o próprio Rio/São Paulo.
No Palmeiras reeditou uma ala direita com Júlio Botelho, que já houvera feito sucesso amplo com a camisa da Portuguesa de Desportos, em um time inesquecível do qual me lembro, de cor, do goleiro ao Ponta esquerda: Muca, Nena e Hermínio. Djalma Santos, Brandãozinho e Ceci. Julinho, Renato, Nininho, Pnga e Simão.
Esse time me fez chorar, quando garoto, no início dos anos 50s, (eu sempre chorava quando o Palmeiras perdia) ao golear o alviverde por 4 x 0 em uma partida do Rio São Paulo, a qual não me darei ao trabalho de pesquisar, mas, lembro-me, perfeitamente, que Djalma, Julinho, Renato e o artilheiro Pinga, arrebentaram o Verdão. Djalma jogou cerca 430 jogos com a camisa da lusa.
Sua saída do Palmeiras ocorreu em 1972, já no ocaso da carreira, e ele foi jogar no Atlético Pr.
Procurado pelo maior presidente do Furacão em todos os tempos, Jofre Cabral e Silva - o neto de Jofre trabalhou comigo como repórter de campo e contou-me a história - Djalma aceitou a proposta do time de Curitiba, muito maior do que o que ganhava no Palmeiras.
Extraordinário caráter, Djalma fez um pré contrato verbal em meados de 71, afirmando que estaria no Atlético, sim, em 1972, assim que terminasse o seu contrato com o Verdão.
Seis meses depois mudou-se para o Paraná onde fez outra dupla espetacular, desta feita com Hediraldo Luiz Beline, o capitão da Copa de 58, que também deixava os bambis para jogar no time paranaense.
Para encerrar esta singela homenagem ao grande "rato" - seu apelido no futebol, principalmente na seleção - que vestiu a camisa da Seleção Brasileira cerca de 100 vezes, algumas considerações finais.
Djalma disputou quatro copas e ele e o alemão Beckenbauer são os 2 únicos jogadores no mundo a terem sido escolhidos por 3 vezes consecutivas o melhor jogador em sua posição em Copas do Mundo, feito que nem Pelé, Maradona ou qualquer outro conseguiu.
Participou das copas de 54, 58, 62 e 66, tendo atuado em todas elas, ainda que em 58 tenha vestido apenas uma vez a camisa azul que nos levou ao primeiro título mundial.
A respeito das Copas afirmou que estava em dívida com a pátria e com o povo, porque das quartro disputadas havia vencido duas, mas que houvera perdido duas, em um tempo no qual, verdadeiramente, a Seleção era, de fato, como dizia Nelson Rodrigues, "a pátria de chuteiras".
Nossos jogadores viviam impregnados pelo patriotismo sincero e Djalma, seguramente, era um dos que mais se orgulhavam disso.
Vestiu, como convidado, a camisa bambi no jogo contra o Nacional do Uruguai em jogo festivo pela inauguração do Morumbi.
Um único cronista negou-lhe a condição de craque. Mário Moraes, o maior nome em comentários da época fosse no rádio na tv ou no jornal.
Cobrado por onde passava em razão de uma teimosia inexplicável e por não reconhecer o que o mundo reconhecia, - Djalma fora o único brasileiro convocado para jogar pela Seleção da Fifa contra a Inglaterra em Wembley em 1963 - Mário Moraes acabou, enfim, capitulando.
É bem verdade que se o amor-próprio e orgulho de Mário, imensos, maiores que o corpanzil que ostentava, não lhe permitissem uma retratação franca, aberta e objetiva, que ele, Mário, talvez visse como contradição, fez um comentário, quer me parecer que no saudoso Diário Popular, em que disse maravilhas acerca de Djalma, como homem e como atleta, em uma das páginas antológicas da imprensa esportiva brasileira que Djalma, orgulhosamente, exibia em seu currículo.
Alí Mário disse tudo que jamais dissera sobre Djalma, e acabou, simbolicamente, tacitamente, implicitamente, completando a unanimidade que Djalma sempre mereceu, como um dos mais técnicos, habilidosos, disciplinados e competentes jogadores da história do futebol brasileiro em todos os tempos.
Que suba o seu espírito, cracasso Djalma Santos, aos mais felizese importantes páramos esportivos celestes e que você encontre por lá os seus maiores parceiros, principalmente Julinho o inesquecível "flecha ligeira".
Que aqui na terra, que a terra de Uberaba lhe seja leve, exemplar cidadão Dejalma dos Santos.
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Ribeirão Preto, 25/07/13
Aceito a sua sugestão e falo sobre Djalma Santos, o maior lateral direito brasileiro da história.
Não farei uma postagem ampla, mas abordarei alguns aspectos interessantes da vida desse extraordinário atleta, um gentlemen, um homem com H maiúsculo que honrou e dignificou a profissão de jogador de futebol.
Diziam que Djalma era mineiro, mas o fato é que ele nasceu em São Paulo, capital, em 1929.
A falsa idéia de que ele teria nascido em Minas decorre, certamente, de seu jeito calmo e polido e de sua forma branda e conciliatória de viver sem jamais se envolver em polêmicas, fofocas ou confusões.
Focadíssimo em seu trabalho, disciplinado dentro e fora de campo, recebeu o Belfort Duarte, premio que a antiga CBD, depois CBF outorgava àqueles que conseguiam terminar a carreira sem a mácula de uma expulsão.
Do ponto de vista técnico Djalma Santos é tido pela maioria da crônica como o melhor lateral direito da história do futebol brasileiro.
Entretanto, não alcançou a unanimidade das opiniões e preferências, certamente pelo fato de jogar pelo Palmeiras, clube historicamente perseguido e odiado pela maior parte da mídia. Naquele tempo já era assim!
Apesar de tudo, jamais se discutiu a sua condição de craque!
Os detratores palmeirenses da mídia fizeram de tudo para não admitir Djalma como o maior jogador brasileiro em sua posição, mas foram obrigados a recuar porque o mundo afirmava isto.
O máximo que conseguiram foi encontrar um único lateral brasileiro que poderia ser comparado ao já velho Djalma, superdimensionando-lhe as virtudes e, mentirosamente, atribuíndo-lhe capacidade superá-lo, Carlos Alberto Torres.
De fato, Torres foi um lateral espetacular, cujo estilo, em muitos aspectos, fora copiado do próprio Djalma, principalmente no que respeitava ao apoio ofensivo, raríssimo entre os laterais da época.
Mas, se ganhava de Djalma em arranque e força física, haja vista que surgiu no cenário esportivo a partir de quando Djalma já atingira quase que 3/4 da carreira, perdia, e muito, em posicionamento, em condição técnica e, principalmente, em virtuosismo.
Vi os dois em ação, muitas vezes, muitas vezes Djalma, muito mais vezes Torres.
Embora muito produtivo, Torres sempre foi um lateral que assinava um futebol de muita força física, que os cronistas da época - nem todos - chamavam de prático, sempre realçando-lhe a disposição, mas relevando ou ignorando, sempre, a sua condição de utilização da força acima da necessidade, o que, mais modernamente, chamam de força desproporcional.
Conquanto um lateral espetacular, Torres foi um dos grandes botineiros da história do futebol brasileiro, impondo-se, ao contrário de Djalma, muito mais pela força física, pela valentia e, até, muitas vezes, pela deslealdade.
Por essa razão e pelo excesso de virilidade em campo, o coloco longe da classe de um lateral singular, eminentemente clássico como Djalma, um virtuose, um artista da bola que, anos antes, atuando em apenas um jogo na Copa de 58 na Suécia, conseguiu ser eleito o melhor jogador da posição.
Assisti a inúmeros jogos de Djalma, o primeiro deles em 196o em Araraquara, quando o Palmeiras, com uma atuação extraordinária de Chinesinho - melhor que Ademir da Guia - encaçapou 3 x 0 na Ferroviária.
Lembro-me, perfeitamente, dos toques mágicos de Djalma no trabalho de aquecimento que era realizado com bola, dentro de campo pelas duas equipes.
Nessas ocasiões os atletas mostravam classe e exibiam as suas habilidades, quer brincando de "altinho", quer passando a bola com estilo, matando ou tocando de primeira para alguém mais longe, ou "tenteando" a bola para colocá-la sobre o pescoço.
O termo "tentear", definia, para os paulistas, a embaixadinha, vocábulo incorporado no futebolês pela crônica carioca no início dos anos 70, inicialmente como embaixada.
Até hoje procuro, etimologicamente, a raiz dessa palavra e de onde teria provindo. Quem souber, por favor, crave, que eu desejo aprender.
Tenho um pensamento a respeito da razão do surgimento dessa nomenclatura, que nada tem a ver com embaixadas ou embaixadores. Creio que a palavra deveria ser cravada com a separação dos termos em e baixada porque a bola, quando vem de cima para baixo é chutada novamente para cima.
Talvez esta gíria, cuja invenção tenha ocorrido em alguma comunidade carioca tenha entrado no futebolês pela porta dos fundos dos treinamentos das equipes de futebol profissional.
A propósito, tudo isso foi dito para evidenciar que Djalma era o rei das embaixadas naquela festa preambular que foi roubada do torcedor brasileiro quando da entrada das equipes em campo, que também servia como mostragem de quem iria começar o jogo, antes e depois da introdução da regra 3.
Num desses trabalhos de aquecimento em que abriu-se uma enorme roda de passes, lembro-me de um lance especial de Djalma:
A bola foi chutada forte e rasteira em direção a Djalma que rebateu de uma forma tal em que a bola rolou em direção ao companheiro, mas acabou fazendo marcha a ré, retornando aos pés de Djalma, após ter seguido por dois ou três metros, fazendo o público ir ao delírio antes mesmo de começar o jogo.
Hoje sei que fazem isso até com facilidade, principalmente no futsal, mas o precursor da jogada foi Djalma e ninguém pode ignorar feito ou deixar de registrar, haja vista que todos aprenderam com ele.
O lance mais espetacular da história do Mineirão em todos os tempos, ocorreu quando o Palmeiras inaugurou o estádio vestindo a camisa da Seleção no longínquo ano de 1965.
Uma bola fortíssima foi cruzada em diagonal para o ponta esquerda uruguaio, aberto, pelo costado de Djalma.
Djalma deu um passo atrás, escorou o chute fortíssimo com a cabeça a uns três metros da linha de fundo e saiu fazendo embaixadas com a cabeça até ultrapassar o meio de campo, ante o olhar estupefato dos uruguaios e a vibração extraordinária da torcida mineira que jamais vira lance semelhante em qualquer de seus estádios.
Por volta de 1966, já trabalhando como repórter esportivo, tive o imenso prazer de entrevistar Djalma que compreendo a minha condição de neófito, com pouquíssima rodagem na profissão, foi extremamente gentil comigo, concedendo-me uma sonora exclusiva.
O instante teria sido perpetuado com uma foto, não houvesse o fotógrafo me avisado que a a única foto que "queimara", isto é, que não saiu, foi aquela em que posei ao lado de Djalma. Lamentavelmente!
A passagem de Djalma da Portuguesa, onde era ídolo, para o Palmeiras foi um fato interessante. Alguém - parece-me que Julinho Botelho, o meu maior ídolo no futebol (jogou mais, muito mais do que Garrrincha que esquentou banco pra ele) - disse a Djalma que o Palmeiras queria contratá-lo.
Djalma disse que não acreditava porque sabia que o Palmeiras não aceitava negros no elenco e não sabia como seria recebido pela torcida.
Dizem que ele foi o primeiro negro retinto a vestir nossa camisa, mas isso é apenas uma lenda.
Antes de Djalma e de tantos mulatos como Valdemar de Brito, o descobridor de Pelé, ou do inesquecível Liminha, o Palmeiras teve Paulinho contratado junto ao Flamengo, atacante com raro faro de gol, da geração rubronegra que revelou Joel, Moacir, Henrique Frade, Duca, Babá e o extraordinário Edivaldo Alves Santa Rosa, o Dida, muito melhor que Zico, ao menos em meu entendimento.
Paulinho estreou ao lado de Enio Andrade e Chinesinho e marcou dois gols sobre o Cu-rintia na goleada de 4 x 0 que marcou o final da hegemonia curintiana de nove anos sem perder do Palmeiras, quando Paulinho assinalou dois gols e foi o melhor em campo.
Djalma Santos acabou indo para o Palmeiras através do saudoso Delphino Fachina (se não me falha a memória) tendo jogado no Verdão de 1959 a 1968, sendo o Palmeiras o clube pelo qual mais jogou, tendo vestido a nossa camisa quase 500 vezes.
No ano em que chegou já levou o Palmeiras ao título paulista, o supercampeonato de 1959, o mais importante e mais difícil campeonato da época, o Paulista, maior e mais importante para o público coestaduano do que o próprio Rio/São Paulo.
No Palmeiras reeditou uma ala direita com Júlio Botelho, que já houvera feito sucesso amplo com a camisa da Portuguesa de Desportos, em um time inesquecível do qual me lembro, de cor, do goleiro ao Ponta esquerda: Muca, Nena e Hermínio. Djalma Santos, Brandãozinho e Ceci. Julinho, Renato, Nininho, Pnga e Simão.
Esse time me fez chorar, quando garoto, no início dos anos 50s, (eu sempre chorava quando o Palmeiras perdia) ao golear o alviverde por 4 x 0 em uma partida do Rio São Paulo, a qual não me darei ao trabalho de pesquisar, mas, lembro-me, perfeitamente, que Djalma, Julinho, Renato e o artilheiro Pinga, arrebentaram o Verdão. Djalma jogou cerca 430 jogos com a camisa da lusa.
Sua saída do Palmeiras ocorreu em 1972, já no ocaso da carreira, e ele foi jogar no Atlético Pr.
Procurado pelo maior presidente do Furacão em todos os tempos, Jofre Cabral e Silva - o neto de Jofre trabalhou comigo como repórter de campo e contou-me a história - Djalma aceitou a proposta do time de Curitiba, muito maior do que o que ganhava no Palmeiras.
Extraordinário caráter, Djalma fez um pré contrato verbal em meados de 71, afirmando que estaria no Atlético, sim, em 1972, assim que terminasse o seu contrato com o Verdão.
Seis meses depois mudou-se para o Paraná onde fez outra dupla espetacular, desta feita com Hediraldo Luiz Beline, o capitão da Copa de 58, que também deixava os bambis para jogar no time paranaense.
Para encerrar esta singela homenagem ao grande "rato" - seu apelido no futebol, principalmente na seleção - que vestiu a camisa da Seleção Brasileira cerca de 100 vezes, algumas considerações finais.
Djalma disputou quatro copas e ele e o alemão Beckenbauer são os 2 únicos jogadores no mundo a terem sido escolhidos por 3 vezes consecutivas o melhor jogador em sua posição em Copas do Mundo, feito que nem Pelé, Maradona ou qualquer outro conseguiu.
Participou das copas de 54, 58, 62 e 66, tendo atuado em todas elas, ainda que em 58 tenha vestido apenas uma vez a camisa azul que nos levou ao primeiro título mundial.
A respeito das Copas afirmou que estava em dívida com a pátria e com o povo, porque das quartro disputadas havia vencido duas, mas que houvera perdido duas, em um tempo no qual, verdadeiramente, a Seleção era, de fato, como dizia Nelson Rodrigues, "a pátria de chuteiras".
Nossos jogadores viviam impregnados pelo patriotismo sincero e Djalma, seguramente, era um dos que mais se orgulhavam disso.
Vestiu, como convidado, a camisa bambi no jogo contra o Nacional do Uruguai em jogo festivo pela inauguração do Morumbi.
Um único cronista negou-lhe a condição de craque. Mário Moraes, o maior nome em comentários da época fosse no rádio na tv ou no jornal.
Cobrado por onde passava em razão de uma teimosia inexplicável e por não reconhecer o que o mundo reconhecia, - Djalma fora o único brasileiro convocado para jogar pela Seleção da Fifa contra a Inglaterra em Wembley em 1963 - Mário Moraes acabou, enfim, capitulando.
É bem verdade que se o amor-próprio e orgulho de Mário, imensos, maiores que o corpanzil que ostentava, não lhe permitissem uma retratação franca, aberta e objetiva, que ele, Mário, talvez visse como contradição, fez um comentário, quer me parecer que no saudoso Diário Popular, em que disse maravilhas acerca de Djalma, como homem e como atleta, em uma das páginas antológicas da imprensa esportiva brasileira que Djalma, orgulhosamente, exibia em seu currículo.
Alí Mário disse tudo que jamais dissera sobre Djalma, e acabou, simbolicamente, tacitamente, implicitamente, completando a unanimidade que Djalma sempre mereceu, como um dos mais técnicos, habilidosos, disciplinados e competentes jogadores da história do futebol brasileiro em todos os tempos.
Que suba o seu espírito, cracasso Djalma Santos, aos mais felizese importantes páramos esportivos celestes e que você encontre por lá os seus maiores parceiros, principalmente Julinho o inesquecível "flecha ligeira".
Que aqui na terra, que a terra de Uberaba lhe seja leve, exemplar cidadão Dejalma dos Santos.
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Ribeirão Preto, 25/07/13
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