Observatório Alviverde

21/05/2010

VEJAM O QUE FIZERAM NOSSOS ANCESTRAIS PARA COMPRAR O PALESTRA. UM EXEMPLO A SER SEGUIDO PELAS NOVAS GERAÇÕES. QUEM SABE, ASSIM, SAI A NOSSA ARENA!

A Loucura do Século
Texto: Gino Restelli

do livro: 1914 Palestra Itália - S. E. Palmeiras 1959
Mas não satisfazia ainda aos palestrinos.


O que eles queriam era "sua" "Praça de Esportes".


Naqueles tempos mais modestos e mais razoáveis ainda não se falava em Estádio: esta era palavra para intelectuais aristocratas.


Outros clubes mal possuíam um campo... pelado para treinos, jogos amistosos e até usavam um terreno em condomínio. Mas o Palestra Italia queria um por si.


E o queria vasto, bem localizado, em posição de futuro, apto para construções grandiosas.


Os dirigentes palestrinos de então, como aliás todos os dirigentes esmeraldinos de então até hoje (e, esperamos também para o futuro) ao que parece, assumindo o cargo, assumiram – provavelmente sem o querer – umas características "dannunziane": numa famosa poesia de Gabriele d'Annunzio o poeta conta a história de sete irmãs:


A primeira (das irmãs) para tecer queria fusos de ouro

A segunda para bordar queria fios de curo

A terceira para costurar queria agulhas de ouro

e assim por diante, tudo devia ser de ouro.


No Palestra Italia tudo devia e deve ser (e é oportuno que assim seja) de real valor, pelo menos... prata de lei. Por isto os alviverdes (e vermelho) só queriam coisa além da medida comum.


Surgiu então, conforme dissemos, a miragem do Parque Antarctica.


A enorme gleba de terra era delimitada, naquela época, pela rua Turiassu no fundo, avenida Água Branca na frente, avenida Pompéia na direita e a atual rua Antarctica na esquerda.


Obviamente o título de Avenidas e Ruas, aqui é apenas gracioso... eufemismo, pois na realidade tratava-se de pouco mais de que ruas de campo.


No centro desta imensa gleba, centenas de milhares de metros quadros, onde hoje é situado o Estádio "Palestra Italia" existia (ocupando porém apenas uma pequena parte da área atual) um campo de futebol alugado ao América F. C. pela fabulosa quantia de 200 (duzentos Mil Réis – não 500 como outrora foi dito e escrito) e onde agora ainda existe um vasto depósito das bebidas da Cia. Antarctica, além do depósito havia um amplo salão com bar e restaurante, nos moldes das clássicas "cervejarias" alemães.


O tal salão da Cia. Antarctica, praticamente funcionava aos sábados à noite, aos domingos e feriados (que na época eram ainda um pouco mais frequentes do que hoje); porém, mais do que meta festiva de alemães o Parque Antarctica (este o verdadeiro título do salão-bar) o era dos italianos.


Talvez por este motivo surgiu no pensamento dos dirigentes palestrinos como sendo o local ideal para a sede de seu Clube.


O Parque Antarctica, pertencia ao alemão Zerrener e seus sócios Conde Asdrubal do Nascimento e Barão Bülow, donos também da Cia. Antarctica.


Mas quando o projeto "Antarctica" surgiu na mente dos esmeraldinos, foi como se aquela gleba, por direito divino, já pertencesse ao Palestra Itália.


Para tratar não de alugar, mas sim de comprar o Parque Antarctica, foi nomeada uma Comissão composta pelos senhores: David Picchetti, Américo Giorgetti, Enrico De Martino e Luiz Rocco, que teve como colaboradores Vasco Stella Farinello, Martino Frontini, eng. Adriano Merlo e outros (de quem não se encontram dados certos nos documentos ainda existentes).


Interpelados os srs. Zennerer e Nascimento, estes responderam que a parte do Parque que podia ser vendida estava alugada ao América F. C. cujo presidente era o dr. Belfort e sem o consentimento dele nada seria feito.


- Preço?

- Quinhentos Contos de Réis


A gleba à venda media mais ou menos entre 140-150 mil metros quadros (dos quais cerca de 85-90 mil hoje pertencem ao Palmeiras), portanto o preço foi estipulado na base de aproximadamente de Três Mil e Quinhentos - Três Mil e Seiscentos Réis por metro quadro.


Os palestrinos nem pestanejaram. Fácil é fazer o cálculo do valor atual e compará-lo ao da época. Quinhentos Contos de Réis era uma quantia astronômica, fantástica, absurda.


Uma boa casa apenas fora do centro custava 20 Contos de Réis, um palacete perto do centro de 40 a 50 Contos; nos arribardes terreno e casa beiravam entre 10 e 15 Contos!


Hoje os terrenos do restante da gleba, loteados da rua Antarctica até o Estádio "Palestra Italia" são vendidos na base de Cr$ 4.000 por m2. Outros podiam ficarem impressionados, não eles que raciocinavam em função e em razão do "Grande Palestra Italia".


E não era, não megalomania: era apenas senso consciente dos deveres que a tradição milenaria impunha aos que queriam agir em função daquele nome; Italia! E era também o sentido de oferecer a São Paulo e ao Brasil em nome da coletividade italiana paulista, algo que realmente fosse digno da Capital e da "colônia".


O obstáculo não era o dos Quinhentos Contos, era o de ter o consentimento do Dr. Belfort, um esportista de lei: um craque do futebol da época, que porém, sofrendo de séria doença pulmonar havia-se retirado nada menos que no pico de Itatiaia.


De São Paulo até ao "rancho" de Belfort levava-se, tudo, tudo correndo bem, mas muito bem, dez horas de trem e quatro de cavalo. Para esse empreendimento foi escolhido o jovem Vasco Stella Farinello que cobriu felizmente as dez horas de trem (casualmente elevadas, a 12 horas) e as quatro horas de cavalo que, depois, resultaram serem quase que cinco.


Vasco encontrou em Belfort o esportista e o gentleman que esperava encontrar. O Dr .Belfort, futebolista amador de alta classe e "signore" na acepção da palavra, não se fez de rogado.


Já estava ao par do que era e do que queria ser o Palestra Itália e sem titubear concordou com Vasco S. Farinello renunciando aos direitos de... inquilinato no Parque Antarctica.


Em 23 de abril de 1920 na sede social do Palestra Itália à rua Libero Badaró foi realizada uma Assembléia Extraordinária para se tratar da compra do Parque Antarctica. A Assembléia, presidida pelo Cav. David Picchetti (na ausência do Cav. Menotti Falchi, que se encontrava na Itália aprovou à unanimidade a importante operação financeira.


A Cia Antarctica cedeu o terreno, "que mede na frente principal com a avenida Água Branca 310 (trezentos e dez) metros, por um lado onde tem cerca de 104 metros (cento e quatro) com a avenida Pompéia, pelos fundos, em linha quebrada na extensão de 620 (seiscentos vinte) metros aproximadamente com a rua Turiassu e finalmente, na outra face, em linha irregular com terrenos do Parque Antarctica".


O Palestra Itália e para ele os signatários do contrato (que foram os Srs. David Picchetti, Américo Giorgetti, Enrico De Martino, Luiz Rocco, Enrico Belli e mais uma assinatura ilegível) empenhava-se a pagar a quantia de 250 (duzentos e cinqüenta) Contos de Réis no ato da assinatura do contrato e mais 250 Contos divididos em duas parcelas de 125 cada vencendo a primeira aos 31 de dezembro de 1921 e outra aos 31 de dezembro de 1922.


A Cia. Antarctica exigiu ainda que entre o campo propriamente dito e a propriedade onde estava instalado o restaurante da mesma Companhia se deixasse uma porta para passagem de um lugar para outro, perenemente aberta. Ainda quis a Antarctica reservar-se o direito de, no campo, vender exclusivamente bebidas de sua produção excluindo rigorosamente qualquer outra bebida similar.


Mais a Antarctica exigiu também que em todas as reclames ou anúncios do Clube aparecesse a indicação de que: o “Stadium está situado junto ao Parque Antarctica".


Além do preço elevado as imposições da Antarctica eram sem dúvida pesadas e, em se tratando de um ato de compra definitivo, talvez os dirigentes de então não tivessem o direito de hipotecar o futuro em total e exclusivo beneficio da Cia. Antarctica; mas o entusiasmo, a euforia eram tantos que essas irregularidades nem foram sequer levada em consideração.


Aos 26 de abril de 1920 o contrato entre a Cia. Antarctica Paulista (no momento pertencente ao conde Bülow e conde Asdrúbal do Nascimento em substituição do falecido sr. Zennerer) e o Palestra Itália, redigido pelo 11º Tabelião de São Paulo, estava assinado por ambas as partes.


O Palestra Itália pagava sua primeira quota com o cheque nº 09743 de 250 Contos de Réis, cheque visado em nome de Francisco Matarazzo & Cia.


Não houve necessidade de recorrer a nenhuma subscrição.


A "Loucura do Século" estava consumada.


PS - A divulgação deste texto é uma homenagem que presto ao responsável pelo site Palestrinos, José Ezequiel Filho, um palmeirense tão apaixonado (ou mais) do que todos nós que escrevemos neste OAV.

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6 Comentários:

  • Às 21 de maio de 2010 às 09:42 , Anonymous Antonio Mirandola Bastos disse...

    O EDITOR definiu tudo na aba esquerda
    O problema da Arena é ciúmes e vaidades contrariados. Todo mundo quer ter o nome na placa de bronze da reforma do Palestra. Minha sugestão. O nome de todo mundo. Outra, que Belluzzo garanta que não vai colocar a placa. Se ele fizer isso o projeto será aprovado na mesma hora.

     
  • Às 21 de maio de 2010 às 11:54 , Anonymous * Jotacê * disse...

    Nenhum estádio do futebol mundial possui uma história tão bela quanto a nosso "Parque Antarctica"!
    Da época do "Palestra" até cerca de 1975/76, os dirigentes do Palmeiras eram agressivos, ousados. Hoje, Dio mio...

     
  • Às 21 de maio de 2010 às 19:22 , Anonymous Anônimo disse...

    PRIMEIRO NÃO

    ”Com relação ao Palmeiras, algumas pessoas (de lá) me conhecem e me ligaram. Eu pedi para agradecer, porque a cabeça está aqui no Cruzeiro. O intuito é fazer o melhor. Eu sei da grandeza do clube (Palmeiras), é um clube importante como o Cruzeiro, mas fica para uma próxima oportunidade”, explicou Adilson Batista

     
  • Às 21 de maio de 2010 às 20:23 , Anonymous Alcides Drummond , O EDITOR disse...

    Este comentário foi removido por um administrador do blog.

     
  • Às 21 de maio de 2010 às 20:26 , Anonymous Alcides Drummond , O EDITOR disse...

    Alcides Drummond , O EDITOR disse...

    Ao Anonimo
    Valeu pela postagem do comentário. Sempre que houver um furo, entrem e publiquem, de peferência identificando o co0mentário. Mas desta vez o OAV já havia publicado a notícia, conforme vc pode verificar na aba esquerda com a manchete "tirem o cavalo da chuva".
    Em minha avaliação, no atual momento o professor pardal nº 1 do Brasil, Adilson Batista, não deveria ser contratado pelo Palmeiras. Demos sorte!

     
  • Às 21 de maio de 2010 às 22:12 , Anonymous sR_OceanoAzul disse...

    Não me canso de ler isso.

    Parabéns ao sítio Palestrinos, grande fonte de informações.

     

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