Observatório Alviverde

24/03/2020

JÁ NÃO SOU O ÚNICO A REIVINDICAR A VOLTA DOS ESTADUAIS FORTES E COMPETITIVOS!


Causa-me espanto e perplexidade a rejeição de 99,9999999999 % da crônica esportiva brasileira manter uma postura diametralmente oposta à realização de campeonatos regionais fortes. Atiram contra os próprios pés.

A massa informe os acompanha em um raciocínio equivocado que está levando o futebol brasileiro a uma situação de terra arrasada em que ele sucumbe e definha a olhos vistos, numa suposta autofagia que na realidade é um assassinato e vai se acabando pouco a pouco.

Assim, cidades interioranas, do tamanho e da grandeza de  Rio Preto, Bauru, Prudente e tantas outras, para que nos limitemos apenas ao estado de São Paulo, já não têm mais condições de manter um time de futebol à altura de suas grandeza e importância.

Times da estatura de um América, de um Noroeste, de uma Prudentina de há muito perderam o status, a grandeza e a importância de outras eras e alguns deles já nem existem mais.

O interior sempre foi a razão precípua da força do futebol brasileiro e enquanto abasteceu os clubes da primeira divisão ensejando-lhes "pé de obra" (royalties para Juca Kfoury) fácil e barato, o futebol brasileiro, ainda que ababelado e desorganizado, era o melhor do mundo.

Mas a própria mídia, mormente as de São Paulo e Rio resolveu elitizar o futebol brasileiro e acabar com os estaduais, sob a estúpida alegação da necessidade de equiparar o calendário brasileiro com o europeu.

Equiparar por quê e para quê, se existe uma diferença brutal em relação ao tamanho do Brasil, país de dimensões continentais, aos mini e micros  países europeus, ao clima, aos usos, aos costumes e a tudo mais que queiram?

Isso colide de frente com a realidade, repito, de nosso país de dimensões continentais no qual inexistem capacidades materiais e financeiras para uma integração que possa motivar as cidades interioranas a manter times de futebol à altura de grandeza que ostentam.

Infelizmente a mania de grandeza de alguns cronistas, a submissão à Europa de outros, associadas aos interesses de empresários (infelizmente os atravessadores, hoje, estão legalizados) e, principalmente aos negócios da TV, impede que o futebol brasileiro possa recuperar o viço de outras eras.

A grande questão decorrente de tudo isso é esta: com o desprezo contumaz da grande mídia pelo futebol interiorano, pela ausência de grandes clubes nas cidades de grande e médio porte de nossa hinterlândia, o futebol brasileiro empobreceu e a renovação de valores de virou manga de colete.

Nunca se teve tantos "hermanos" no futebol brasileiro como hoje em dia e com um detalhe muito significativo : se destacam e a cada nova leva de atletas que chega, superando a maior parte dos brasileiros em qualidade.

O interessante e até pitoresco da história é que os técnicos brasileiros que vêm os clubes definhar e o mercado de trabalho encolher para eles e para os atletas, apoiam a elitização e a entrega do futebol brasileiro para a televisão.

Temendo se queimar, nenhum deles ousa levantar a voz contra o absurdo, consagrando assim a tese furada e deletéria dos Juca Kfouri, dos Alberto Helena, dos Flávio Prado, dos Sormani, dos José Trajano ( a saída deste indivíduo da televisão foi uma limpeza  e tanto nas telas de tv) e de tantos outros pioneiros do caos.

Eu, até a semana passada, era um defensor solitário do fortalecimento do futebol interiorano e do retorno dos estaduais cada vez mais fortes, a serem disputados no início de cada ano e com a presença de todos os grandes de cada estado.

A medida, ao mesmo tempo em que robusteceria o futebol interiorano, permitiria aos grandes um lapso de tempo suficiente para que se preparassem para o Brasileiro, mas, antes disso, para a Libertadores, Copa do Brasil e outras competições.

Outra aberração  é a subserviência total dos poucos jornalistas e colegas do interior que conseguiram sobreviver a essa guerra em que as principais vítimas foram as suas cidades, e, por conseguinte, eles próprios.

Antigamente fazer crônica esportiva em Rio Preto, Ribeirão Preto, Bauru, Marília e Prudente e cidades desse porte, proporcionava aos jornalistas a relevância e os salários das grandes capitais.

Mas eles, os jornalistas (maioria plena) acabaram envolvidos pela cantilena vazia e pela absoluta falta de visão de seus colegas da capital e a classe jornalística interiorana, hoje, sem salários e sem emprego, sucumbe a olhos vistos e aqueles que estão em rádio e jornal apenas torcem para seus postos de emprego não irem para o espaço.

O mais interessante dessa história é que quando os mesmos jornalistas que bombardearam o futebol no interior, reduzindo-o a frangalhos visitam essas cidades, são recebidos como gente muito importante e tratados não como fidalgos, mas como  autênticos reis. Ninguém os questiona!

Acho que já disse isto, certa vez, por aqui que " ELES" fazem igual aos peruanos que erigiram uma estátua a Pizarro, o aventureiro espanhol que os destruiu, conquistou e escravizou

Hoje a mídia só fala em globalização, em status, em luxo, facilidade, em TV, em grandeza, nobreza, e, enfim, em altos voos...

Mas essa gente, que nasceu na era das facilidades,  esquece que o futebol proliferou no Brasil. tornou-se  o esporte número um do país e é o maior vencedor de copas  do mundo e  graças aos ´[es descalços, aos campos de terrenos baldios, a outros de fundo de quintal e aqueles da perferia das grandes cidades.

Fui duramente criticado e combatido por minhas ideias que apoiam reconstrução do futebol do interior e preveem a volta dos estaduais saudáveis que permitam jogos dos times do interior contra os grandes, visando a sobrevivência dos mesmos.

Nas poucas vezes em que estive em programas televisivos aqui em BH tanto e quanto nas oportunidades em que escrevi em outros blogs e até quando publiquei matéria congênere neste mesmo espaço fui severamente combatido.

Mas quando Jorge Jesus, respaldado por sua campanha no Fla e por sua vivência e militância no eldorado europeu repetiu este velho escriba em entrevista na Fox,  houve como que um choque nos jornalistas brasileiros.

Ao manifestar-se a respeito na necessidade do Brasil voltar suas vistas para o interior e valorizá-lo cada vez mais, para o proveito e progresso do futebol brasileiro, suas sábias palavras trincaram o monolítico ideário fantasioso da imprensa brasileira que os camisas vermelhas da mídia conseguiram introjetar e incutir na mente de colegas, dirigentes e do próprio mundo do futebol.

Já não estou só no meu desejo da volta do futebol a sua realidade e as suas origens.

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Encerro com o último soneto de Augusto dos Anjos que, por enquanto, vou publicar neste espaço:
Continuo vendo similitudes também desse soneto com o comentário que proferi.


BUDISMO MODERNO

Tome, Doutor, esta tesoura, e... corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu coração, depois da morte?!

 

Ah! Um urubu pousou na minha sorte!
Também, das diatomáceas da lagoa
A criptógama cápsula se esbroa
Ao contacto de bronca dextra forte!

 

Dissolva-se, portanto, minha vida
Igualmente a uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo;

 

Mas o agregado abstrato das saudades
Fique batendo nas perpétuas grades
Do último verso que eu fizer no mundo!