Observatório Alviverde

05/11/2014

APRENDA, NOBRE! NÃO SE FALA EM CORDA EM CASA DE ENFORCADO!

  
 

Paulo Nobre concedeu, ontem, entrevista exclusiva ao Arena Sportv, mais na qualidade de candidato à reeleição do que, propriamente por sua condição atual de presidente do Palmeiras.

A entrevista em si, mal planejada, truncada, seccionada, desprovida de uma sequência lógica, conduzida por um âncora limitado e pouco experiente, coadjuvado por dois comentaristas mais afeitos à opinião do que à indagação, foi dispersa, confusa e pouco esclarecedora.

Tudo isso, adido à notória dificuldade de expressão de Nobre, decretou a desmotivação completa de um diálogo que se afigurava, adredemente, didático e elucidador, o que foi, apenas, em parte.

A desconexa entrevista de Nobre, repleta de perguntas inúteis acerca de assuntos requentados ou os aleatórios, de há muito mortos e pulverizados, acabou se  tornando irritante, transformada que foi em um processo inquisitório, uma espécie de "acusação x defesa", como sói acontecer toda a vez que qualquer órgão de imprensa concede espaço a dirigentes do Palmeiras.

O presidente Paulo, justiça seja feita, fez jus ao Nobre, conduzindo-se com fleugma, serenidade, compostura e educação durante todo o programa, ainda que a maior parte das perguntas que lhe foram direcionadas, ardilosas, astuciosas, algumas provocativas, merecessem respostas fortes,  agressivas ou eivadas de um certo desprezo e ironia contra quem as formulou. 

Mas o presidente palmeirense, evidenciando respeitável formação familiar, moral, social e cristã, respondeu educadamente, sem subterfúgios, com franqueza, altivez, conhecimento de causa e personalidade às perguntas formuladas, grande parte delas capciosas e desnecessárias, como, cito o exemplo, a ressurreição do assunto Kardec.   

Na realidade, o que Nobre mais fez em toda a extensão do programa, foi defender-se e a sua administração de cobranças insistentes dos entrevistadores, Alexandre e Vilaron, noves fora  reconheça-se, Noriega, ponderado, que, muito mais, viu e ouviu do que, propriamente, perguntou.

Alexandre Oliveira, o âncora, desancorado a todo instante pela impertinente produção, iniciava os assuntos, destacava-os, ampliava-os e fazia "hitchcockemente" o seu suspense!

Quando se imaginava que fosse dar sequência aos mesmos e encaminhá-los para a devida conclusão de debate, era instado a mudá-los para atender outras demandas do programa. Seria o cu-rintiano Rizek o produtor do horário? Receio que, sim!

Oliveira, três vezes, anunciou que iria abordar o tema do refinanciamento das dívidas públicas dos clubes e, por conseguinte, do Palmeiras, mas quando conseguiu colocar o assunto no ar,  já se vivia o epílogo do programa.

Poxa, ah, oh, ué, uai, hum, cazzo, pô e todas as interjeições possíveis que possam externar a nossa indignação...  

O Sportv não anunciou em repetitivas chamadas do Arena durante a programação da semana que o presidente do Palmeiras seria entrevistado? 

Entrevista (era assim em meu tempo) pressupõe exclusividade de assunto durante o tempo em que ela rola e transcorre, sem tergiversações ou concessões!

Seccioná-la ou interrompê-la, é levar o telespectador à confusão e à irritação. Simples questão de lógica, de respeito, cortesia e consideração ao entrevistado e ao público.

O fato é que Nobre, ontem, foi explorado inquisitorialmente no ArenaSportv, saindo-se magnificamente bem quando tratou dos temas administrativos e menos bem quando foram abordados os assuntos do futebol.

Por um lado, provou, comprovou e ratificou que se conduziu com seriedade, comprometimento e responsabilidade na gestão da Sociedade Esportiva, embora, ficou provado, não tenha ido nada bem em relação ao Palmeiras.

Mostrou capacidade administrativa, confiança econômica no clube ao levantar dinheiro através do crédito e prestígio de sua pessoa física, para a rolagem administrativa e contábil do Palmeiras mediante certas regras e compromissos assumidos perante o Conselho Deliberativo, devidamente documentados!

Rebateu e refutou as acusações de falta de ética em relação ao empréstimo ao afirmar que a tomada de dinheiro e seu repasse ao clube, foram espontâneos e não significam que ele pretenda se eternizar no cargo e nem usar a ação como artifício de reeleição...

Da mesma forma, evidenciou amplo conhecimento de mercado, ao conseguir dinheiro mediante taxas módicas, ratificando a sua capacidade de administrar o clube com eficiência e proficência.

Apesar das incertezas da economia, agravada pela antecipação de receitas de maior liquidez e de endividamentos contraídos por antecessores, cujos nomes omitiu, PN reequilibrou as finanças do clube e  o Palmeiras já não atrasa mais os salários dos funcionários e do grupo de jogadores.

De forma política e ponderada contornou todas as perguntas embaraçosas que lhe foram direcionadas em relação à nova Arena.

A propósito, faço questão de destacar uma resposta de  Nobre, reconheça-se, inteligentíssima a respeito de quanto o Palmeiras faturava no segmento futebol, ao que ele obtemperou que essa questão de números não era pública e só poderia ser informada, internamente aos sócios palmeirenses. 

Mais importante do que tudo isso, coroou e consagrou a sua personalidade ao mostrar-se refratário e insubmisso às críticas da mídia e dos adversários, dispensando o apoio de quem quer que fosse ou seja, em relação às suas inovações na política salarial do Palmeiras, ao relacionamento com outras equipes e, principalmente, com a Mancha, com a Tup e com outras organizadas. 

Clap, clap, clap, clap! Palmas para ele! Até aqui foi estupenda e irretocável a performance oral do comandante alviverde!

Mas na hora de falar de bola e ganhar um dez, Nobre, que desastre, fez lembrar Sandoval Quaresma, saudosa e impagável personagem da escolinha do Professor Raimundo, do eterno Chico Anísio. 

Instado a requentar o caso Kardec, pegou corda e desperdiçou uns cinco minutos da entrevista "bostejando" sobre o assunto. 

Na verdade, Nobre deveria, simplesmente, ter respondido que o caso era superado e que não havia mais sentido em comentá-lo.
  
Por outro lado, dizer que Valdívia "é um dos melhores meias do futebol brasileiro" é humildade demais para o meu gosto e um desastre para a promoção e vida do clube. 

A propósito de Valdívia, houve alguém da mídia que ousou chamá-lo de craque. Roberto Avallone o fez, finalmente, esta semana. Mas como exigir que a mídia o faça se nem o presidente consegue fazê-lo?

A grande barbeiragem, o grande equívoco, o descomunal e despropositado "fora" do presidente ocorreu quando ele admitiu que vai proceder a muitos cortes no atual elenco, com a diminuição sensível do número de jogadores, hoje à beira de quarenta.

A inabilidade de Nobre caracterizada pela simples menção de uma medida que nunca se deve anunciar antecipativamente e, menos ainda, publicamente, foi digna de um dirigente "cabaço" e inexperiente que tem muito a aprender em termos de esperteza, posicionamento e malícia.

Nobre, com certeza, nem se deu conta da bobagem que, imperceptivelmente, cometeu e nem da repercussão negativa de sua declaração perante um elenco formado, massivamente, por jovens!

Não apenas os garotos, mesmo os jogadores experientes que não vêm jogando, todos eles passíveis de entrar no time a qualquer momento em face de contusões ou de cartões nestas seis rodadas que faltam para o encerramento do Brasileiro, poderão vir a se sentir inseguros em face da ameaça de dispensa embutida na fala do presidente.

Em razão disso podem, perfeitamente, deixar de render o que sabem e podem,  num momento em que o Palmeiras ainda corre o severo risco de ser rebaixado e, por conseguinte,  precisa, de paz, harmonia e equilíbrio em seu elenco.

Por essas e por outras que se fala lá na minha terra e não sem justa razão: "Não se fala em corda em casa de enforcado"!

Que Nobre tenha aprendido a lição!

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