Observatório Alviverde

16/03/2018

QUEM NÃO SE DEFENDE NÃO TERÁ DEFENSOR (Ruy Barbosa)



Na década de 80 tive o ensejo de, um dia, conversar longamente com o saudoso Nelson Duque então presidente do Palmeiras, pessoa simpática, inteligente, esclarecida e cheia de boas intenções.

Como não poderia deixar de ser, o assunto foi (exclusivamente) o Palmeiras,  revogadas quaisquer disposições e indisposições contrárias.

Entre tantos assuntos, abordei com ele o velho problema dos "esbulhos" arbitrais e dos verdadeiros "massacres apaches" promovidos pela FPF, CBF e tribunais respectivos contra o clube.

Duque concordou comigo e afirmou-me que tudo aquilo era fato e existia, ensejando-me uma inevitável pergunta:

Se as coisas eram assim, "por que o Palmeiras não reagia a essas situações constrangedoras"?

Respondeu-me ele, então, que "o meu erro e de todos aqueles que pensavam como eu, era imaginar que o Palmeiras tinha a força do Curica e do São Paulo, mas que, na realidade e na prática, infelizmente, não tinha".

Sem querer criticar "Seu Nelson" (como o chamavam à época, de quem eu gostava muitíssimo), quero dizer que esse complexo de inferioridade verde vem de priscas gerações de presidentes palmeirenses acomodados.

Embora com alguns interregnos, essa mania de "tomar no holoférnes com dignidade" e sem esboçar nenhum gesto de defesa, ampliou-se de uma forma avassaladora e incontrolável, desde que o clube perdeu para o time de Deus, um de seus maiores dirigentes de todos os tempos, o saudoso  Dr. Delphino Fachina.

Para não me estender tanto em relação a esse incrível, respeitável, competente e imortal dirigente, convém que se diga que os dirigentes da FPF e os adversários é que sempre tremiam ante a sua imponente presença, fosse nos conselhos arbitrais ou nas reuniões rotineiras dos clubes na sede da entidade, muito comuns àquela época.

Para que os mais novos tenham uma pálida ideia da importância e, sobretudo, da influência de Fachina, basta-me relatar-lhes um fato.

Em 1969 dois jogadores do Curica morreram em um acidente de automóvel na capital paulista: o ponta esquerda Eduardo e o lateral Lidu.

A FPF, então, chamou todos os clubes da chamada 1ª Divisão e os orientou para que num conselho arbitral especialmente convocado para este fim, os clubes permitissem que o Curica inscrevesse dois novos jogadores para substituir aqueles que morreram.

De acordo com o regulamento havia necessidade da unanimidade de votos para que  o Curica pudesse substituir os dois futebolistas falecidos.

Aberta a votação, todos os clubes, absolutamente solidários, foram votando SIM, permitindo que o Curica inscrevesse mais dois jogadores fora do tempo legal.

Quase ao final da votação, chegou a vez de Delphino votar e ele, então presidente do Palmeiras, simplesmente, disse NÃO e acabou com o sonho da galinhada.

Embora com a aprovação de 99% dos clubes, o Curica não pôde contratar ninguém para substituir os dois jogadores tragicamente desaparecidos e terminou em quarto lugar no campeonato daquele ano, atrás dos Bambis, em terceiro, do Palmeiras, vice-campeão e do Santos, campeão.

Quando perguntado sobre o fato Facchina, simplesmente, respondeu. "Fosse o Palmeiras que perdesse os jogadores, esta reunião sequer teria sido marcada"!  Sabia muito esse Facchina!

Não quero discutir o fato ocorrido sob o ângulo do certo e do errado, do ético ou do antiético mas, apenas e tão somente registrar a força moral de Fachina que enfrentou a FPF o Curica, todos os outros clubes e o mundo, para que não surrupiassem aquilo que ele julgava um direito líquido e certo do Palmeiras. E era!

Já não existem mais dirigentes no Palmeiras (faz tempo) da têmpera de Facchina. A fraqueza e a pusilanimidade  dos homens que dirigem o Verdão de vários anos a estes dias tem levado o clube por um caminho acidentado, tortuoso e difícil. Ultimamente, Paulo Nobre foi outra exceção e também por isto foi campeão!

Ontem elogiei e enalteci a conduta do presidente Gagliotte por ele ter "peitado" o sistema e desmanchado toda a trama ilegal urdida pela FPF, pelos globais e outros inimigos, imaginando que o nosso líder continuasse  a sua luta, mas, (tomara que eu esteja enganado) parece que ele esmoreceu e desanimou-se, completamente da empreitada.

Cadê que ele sossegou o coração da torcida indo a público para ao menos dizer que o Palmeiras  continuaria a sua luta visando a manter Scarpa?

Cadê que ele foi à mídia para bradar contra o fato de o "impeachment" de Scarpa ter chegado em tempo recorde?

Sei, perfeitamente, que isto não alteraria o rumo dos acontecimentos, mas marcaria uma posição segundo a qual o Palmeiras não é um clube qualquer daqueles de entregar os seus direitos de uma forma tão fácil e sem reações.

Cadê que ele foi à mídia para protestar contra os enquadramentos de Dudu, Jailson e Felipe Mello absolutamente despropositais e injustos?

Cadê que ele protestou contra o pseudo palmeirense, o árbitro Raphael Clauss aquele do pênalti marcado um minuto depois para favorecer o Curica. Isto é inédito no futebol mundial...

Alguém, em nome do Palmeiras, disse isto ou vai dizer no Tribunal?

Alguém vai perguntar à FPF e se o árbitro Clauss Marcha-A-Ré, o retardatário ou, melhor, o retrospectivo, será de alguma forma punido após erro tão crasso e tão grosseiro?

Ou, perguntar não ofende, alguém do Palmeiras irá perguntar se já há decisões arbitrais por imagens nos lances  que beneficiam o Curica?  

A Rede Globo fornece a tecnologia para as marcações quando os lances favorecem o Curica?

Alguém terá coragem de ir aos programas de rádio e TV para dizer tudo isso, direito inalienável do Palmeiras?

Ou "ainda não caiu a ficha" para o nosso bem-intencionado e simpaticíssimo presidente que até pouco dias afirmava que a "a torcida palmeirense tem mania de perseguição", endossando e referendando todos os erros cometidos contra nós?

Acorda novamente Gagliotte! Saia do acomodo incomodante em que está e vá à luta pelo meu, pelo seu e pelo nosso amado, adorado, idolatrado e estremecido Verdão. 

Se você acha que não fica bem um presidente fazer isto ou se considera que pode se queimar nomeie um porta-voz dotado do dom da palavra que possa dar um troco à altura das sacanagens perpetradas contra o Verdão, mais ou menos como os Bambis faziam ao tempo em que nomearam Marco Aurélio Cunha como o representante oral do clube, uma espécie de advogado de porta de cadeia.

Fique ciente, meu caríssimo presidente que "se o Palmeiras não enfrentar os traficantes de influência do mundo da bola não vai chegar a lugar algum e será esmagado já neste Paulistão."

Como dizia Ruy Barbosa, um dos maiores brasileiros de todos os tempos, do alto de sua inteligência, genialidade e conhecimento de vida, "quem não se defende, não terá defensor"!

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