Observatório Alviverde

06/04/2010

O FUTEBOL BRASILEIRO CRESCE PRA BAIXO FEITO RABO DE CAVALO! O FUTEBOL DO INTERIOR ESTÁ NO FIM. A LEI PELÉ E A CLT INVIABILIZAM CADA VEZ MAIS OS CLUBES

Tão logo sejam apurados os campeões estaduais, o futebol do interior, com raríssimas excessões, vira urso e hiberna até a próxima temporada.

Clubes de importantíssimas cidades, vão dispensar os elencos profissionais, guardar os uniformes, e por em campo, apenas, as categorias de base.
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Parte considerável da crônica esportiva, ressalvadas as exceções, vai ter muito o que comemorar por aquilo que chamam de modernidade e que, por injunções mais políticas do que midiáticas conseguiram instituir e implementar no futebol do Brasil...

Os que se auto-denominam "Cronistas de Vanguarda", leia-se "Juca, sua trupe & amestrados" alçarão, certamente, um brinde em companhia de empresários, agentes Fifa e políticos afins.

Beberão à saúde da desavisada massa de manobra, cartolas subservientes-incompetentes, ouvintes e leitores de pouca compreensão e de poucas letras.

Mas, comemorarão o que?

A ineficácia da Lei Pelé, a extinção prática dos estaduais, o monstrengo "Brasileirão por pontos corridos", de maio a dezembro?

Ou, comemorarão tudo de "bom e moderno" que construiram e implantaram no futebol deste país?

No auge do festim, convidarão a falar o chefe da máfia que os une, para a desgraça e o mal cada vez maior do futebol brasileiro.

E ele, o grande delator, mentor intelectual de tantas atrocidades cometidas contra o desorganizado e indefeso futebol brasileiro, será aplaudido de pé, às pamparras, ao final de seus "bostejos" orais ditados por sua voz de gralha, aguda, fina e irritante.

Na certa, mirando-se ao espelho do palco dirá em voz bem alta para todos os discípulos ouvirem: "espelho meu, existirá jornalista mais importante, influente e honesto do que eu?".

Na sequencia do discurso condenará colegas que, por questão de sobrevivência, fazem "merchandising" em programas de rádio e tv, mas, certamente, não terá a hombridade de propalar publicamente que não as faz porque não consegue vender uma agulha e que, ainda assim, faz muito pior do que eles.

Sabem por que? Porque se utiliza do condenável mecanismo do engajamento político, o maior de todos os "merchans", para atingir objetivos que "per sí" e de acordo com a valoração de suas palavra, personalidade e influência, jamais conseguiria nesta vida.

Vão aplaudí-lo, seus discentes, pelo seu maior legado, a Lei Pelé, redigida por ele, "capo di tuti capi", míope, de parcos conhecimentos da realidade do futebol brasileiro, cujo espectro de visão dista da poltrona em que senta à parede mais próxima de seu escritório, nada mais que isso.

Não dirão, certamente, que a Lei Pelé trouxe funestas consequencias aos clubes, no processo de corrosão, destruição e miséria que se instalou, desde ela, no futebol brasileiro.

Ninguém dirá que a hedionda lei apequenou os grandes, empobreceu os medianos e aniquilou os pequenos clubes em proporções geométricas, seguramente, em plano nacional.

Muitos jornalistas comemorarão o término do que chamavam da escravidão dos jogadores em relação aos clubes, em alegre tilintar de taças com os empresários e agentes Fifa.

Baterão no peito e dirão "sim, fomos nós, os baluartes da mídia, que libertamos a classe oprimida dos profissionais de futebol no Brasil, da guante e do jugo opressor dos famigerados clubes".

Mas nenhuma palavra vão proferir quanto à segunda fase escravagista do futebol brasileiro à qual servem, muito pior e sub-humana, a da submissão dos atletas a inescrupulosos empresários.

Comemorarão as inúteis compatibilidades do calendário brasileiro com o europeu que, por pressões e injunções políticas, deles próprios "et camorra" conseguiram impor aos clubes, às federações e a própria CBF.

Comemorão o brasileirão de maio a dezembro, um tiro disparado contra o próprio coração do futebol brasileiro, cuja existência em período tão longo, aniquilou completamente o futebol do interior de São Paulo e do Brasil.

Comemorarão o turismo de trabalho, garantido de maio a dezembro, via aérea e em hotéis de primeira, à custa de suas empresas.

Em "tournée" pelas melhores capitais brasileiras, viajarão despreocupados com as consequencias advindas de seus atos, verdadeiros trabalhos de sapa contra os alicerces do futebol brasileiro.

Não venham me dizer que, nessas eventualidades, só se dedicam ao trabalho porque sou do meio e conheço, muito bem, esse baralho.

Comemorão a predominância e a eternização dos grandes na elite do futebol brasileiro. Muitos deles têm a petulância de sugerir publicamente que os grandes não sejam atingidos nunca pelo mecanismo igualitário e democrático do descenso.

Comemorarão o campeonato dos pontos corridos que, desde que foi implantado, proporcionou tanta sujeira, como entrega vergonhosa de jogos em cima e em baixo da tabela nos momentos cruciais da competição.

Pouca gente sabe, mas o Palmeiras foi para a segundona porque o Inter arrumou um resultado com o Paysandu em Belém, na rodada final e o Palmeiras, eticamente, recusou-se a pagar 3 milhões para que lhe entregassem o jogo derradeiro que decretou-lhe a degola. Vem sendo assim, ano a ano.

O Santos de Luxa em 2009, claramente, não se interessou em vencer o Cruzeiro, entregando-lhe, de mãos beijadas, a vaga da Libertadores. O Gremio fingiu que queria vencer o Fla facilitando-lhe o título. Isso eles não investigam...
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Debochadamente, ironicamente, às vezes eles perguntam por seus meios de comunicação: "O que foi feito do América de Rio Preto? O que fizeram com o Santa Cruz? O que aconteceu com o Ferroviário do Ceará ou com a Ferroviária de Araraquara? Como é que conseguiram acabar com Inter de Limeira?

É muito oportunismo, muita cara-de-pau, muita desfaçatez e completa falta de caráter, pois o Brasil sabe que foram eles mesmos que conduziram o futebol brasileiro ao cáos, ao fosso e a fossa, impondo-lhe via politicalha de Brasília, irreversível crise existencial, levando-o à falência e milhões de torcedores de médios e pequenos clubes à orfandade e à perplexidade.
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Será que essa gente imagina que o futebol brasileiro se resume a 13 únicos clubes ungidos pelas glórias do passado? Tirem a viseira, mirem o futuro. O futebol tem de ser honesto, transparente e democrático, tanto e quanto os comunicadores e formadores de opinião.

Essa fórmula colonizada de calendário, essa elitização, essa europeização do futebol brasileiro, não faz bem aos clubes e não tem razão de ser.
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O futebol tupiniquim, hoje, tem donos. Não passa, simplesmente, de uma espécie de fazenda destinada a produção de jogadores, a serviço do mercado exterior.

Aí eles reclamam... Já não se tem mais craques no Brasil como antigamente. O futebol está muito pobre, muito igual e muito previsível. Nossos craques estão indo embora muito precocemente...

Mas quem, senão eles, criou essa atmosfera derrotista e essa crise sem fim no cenário do então rico, forte, vibrante e pujante futebol brasileiro, que era assim, principalmente pela riqueza e força do interior?
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Mas os tempos, hoje, são outros em decorrência do mal que os tais "cronistas de vanguarda" causaram ao futebol brasileiro, promovendo, em mutirões midiático e político, tantas excrescências.

Se a família é a celula-mater da sociedade, os clubes são a célula-mater do futebol. Os clubes, aos poucos, vão morrendo e se eles morrerem morrerá o próprio futebol. E, no entanto, eles estão morrendo...
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Essa gente nos fez perder a identidade, em nome de uma adaptação a outros costumes, outras culturas, outras necessidades e outros interesses.

Canais tipo ESPN, que colocam o futebol internacional em plano superior ao nacional, consolidaram esse golpe mortal contra o futebol brasileiro e estão criando uma nova geração de cronistas e torcedores que colocam em segundo plano as equipes e os valores nacionais.

A doença é crônica. Até a Rádio Bandeirantes outrora o templo do rádio, hoje uma radiozinha inexpressiva, aderiu aos novos tempos.

Com péssimas vozes, repleta de cronistas-moleques que vivem, constantemente, rindo, brincando, fazendo piadas uns com os outros, em pleno ar, a Band parece ter um triste fim.

Pode-se dizer, sem medo de erro, que a Rádio Bandeirantes, hoje, brinca de fazer rádio esportivo, com raras exceções em seu cast artístico-esportivo. O noticiário internacional corre solto pelo ar como se os clubes europeus fosssem clubes brasileiros. Quanto entreguismo e submissão cultural! Como eles adoram ser colonizados!

Quem diria? Até a velha Band, de tantas e maravilhosas tradições, aderiu aos modismos, às conveniências e a todas essas filosofias sazonais equivocadas e destrutivas que estão, em última análise, assassinando o futebol brasileiro.

Por osmose, isso já passou para a TV. Nem a Rede Globo, tv padrão do país, livrou-se disso. Que o diga o Globo Esporte com as abomináveis palhaçadas do intragável Sr. Tiago Leifert.

VOLTEMOS AO BRASILEIRÃO, TÚMULO DO FUTEBOL BRASILEIRO

Apesar de tudo, o Campeonato Brasileiro ainda monopoliza as atenções do público pois além de reunir a nata dos clubes do país, é exibido em sua totalidade pela TV, paga ou não.

Assim, quem irá assistir a um Rio Branco de Americana x Inter de Limeira, tendo na TV um Palmeiras, Corinthians ou qualquer dos grandes em ação?

Na série B, um Rio Claro X Ponte, um Botafogo RP X Portuguesa ou qualquer outro jogo dessa natureza, não teriam receitas de bilheteria suficientes para cobrir as despesas. Série B só motiva e interessa mesmo, na reta final para efeito de classificação, de promoção ou de rebaixamento.

As rendas são ridículas, exceto quando um pequeno enfrenta um grande que ocasionalmente transita por lá com já transitaram Palmeiras, Corinthians, Vasco, Gremio, Atlético Mineiro e outros.

Se na série B é assim, imaginem como são as séries C e D? Que clube pode sobreviver com dignidade em um quadro como esse?

Nem o meu Rio Preto, o meu Comercial, a minha Ferroviária, a minha Inter de Limeira, o meu XV de Jaú e outros clubes do interior pelos quais nutro uma enorme simpatia e que sucumbiram diante de tanta insensibilidade, tanta burrice e de tanto jogo de interesse.

Todos são, em última análise, vítimas dessa armação brutal de uma minoria da crônica esportiva, que muitos companheiros, infelizmente, apoiaram por estreitamento de visão e ignorância de conceitos.

Os vanguardistas adoram censurar os companheiros e ditar regras de conduta, mas fazem pior, porque são engajados, politicamente, a fim de auferirem prestígio e força para influirem diretamente no futebol, como o fizeram, de forma exclusivamente negativa até agora.

Perdoem-me se estou sendo extenso e excessivamente crítico, nesta análise, mas assim me permito proceder pela gravidade da situação do futebol atual, em todos os quadrantes do território nacional.

Há um outro aspecto a ser analisado. A Lei trabalhista, da forma como ela existe e está sendo aplicada, vai acabar, cedo ou tarde, com TODOS os clubes brasileiros, os grandes, inclusive. Ninguém vai escapar.

O futebol deveria ter uma legislação própria e resolver tudo por sí mesmo, sem ter de se render à outras esferas da justiça.

Quanto à CLT, é muito bom receber as benesses dessa lei, absolutamente paternal, facciosa e injusta.

Para quem está empregado ela é ótima, visto que o trabalhador tem direito a tudo e o patrão não tem direito a nada, nem a chamar a atenção de um empregado relapso, pois está sujeito ao pagamento de absurdas indenizações por dano moral.

A Lei Trabalhista e a Lei Pelé, apequenaram TODOS os clubes do interior do Brasil. Muitos até sucumbiram, fecharam as portas e tiveram de entregar o patrimônio construido por muitas gerações a jogadores inescrupulosos.

Por que não votam em Brasília uma lei semelhante a da inalienação da casa propria, para que os clubes não percam as suas sedes e continuem existindo?

A Lei Trabalhista, da forma como está colocada no Brasil, só favorece a quem está empregado, porque além de usufruir de todas as benesses decorrente da lei, o operário já aprendeu que há um segundo caminho para surrupiar à mão grande, mais dinheiro do patrão.

A Lei Trabalhista é um deboche, um atentado à moralidade, à decência, a integridade e a honestidade do homem de bem, na medida em que está consagrando o mau-caratismo e fomentando a vagabundagem.

Não existe mais demissão sem a correspondente ação na justiça, com raras exceções, ainda que o patrão tenha cumprido todos os seus compromissos e pactuações legais. Há sempre algo mais a ser cobrado em uma sem-vergonhice que não tem mais fim. Os boleiros são mestres nisso!

Os idiotas que aplaudem a Lei não passam de desavisados porque a CLT é, hoje, o maior fator de desemprego e de miséria no país.

Ninguém mais quer empregados porque a CLT é assim mesmo, injusta, paternalista e só olha um lado da demanda.

Os clubes do interior deveriam se unir, a partir de São Paulo, Paraná, Minas, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que têm os melhores estaduais e, em conjunto, realizar um gigantesco movimento de protesto.

Tinha de ser um movimento de abrangência nacional, suspendendo as atividades por tempo indeterminado, protestando veementemente contra esse estado de coisas decorrente da Lei Pelé, da CLT e do calendário,que os mina e destrói a cada dia.

O número de desempregados decorrentes das consequencias de um movimento como esse, provocaria um grave problema social e obrigaria o governo, os políticos, as federações e a CBF a reverem conceitos, mudarem de atitude e tomarem providências para resolver a grave situação.

Terminando, quero citar a hipocrisia do Sebrae e de outros órgãos governamentais quando fazem campanhas pelo empreendedorismo, visando a formar e criar novos empresários e novas emrpesas em multiplos setores.

Com tanto imposto, tantas taxas, imposto de renda altíssimo, com tantas armadilhas legais, arrocho fiscal, com visitas constantes de fiscais prepotentes, opressores e incompreensivos, e, principalmente com o facciosismo explícito da CLT, eu não quero abrir porta empresarial nem para bancar bingo ou carteado. Muito menos, ainda, para ter um clube de futebol. Só louco!
Alcides Drummond