Observatório Alviverde

21/03/2020

PSICOLOGIA DE UM VENCIDO (augusto dos anjos)


Sem bola, quero falar de poesia!

O poeta da língua portuguesa com quem mais me identifico é o paraibano Augusto dos Anjos, nascido em 1884 em Cruz do Espírito Santo PB e morto em Leopoldina, MG, quarenta anos depois.

Escreveu um único livro de poesias denominado EU, no qual transcreveu alguns dos mais formidáveis sonetos da língua portuguesa em todos os tempos.

Seu estilo sempre foi  único, pessoal e exclusivo, e, por isto,  ninguém ousa definir de maneira enfática  e categórica se ele ele se insere na escola simbolista de Cruz e Souza ou na escola parnasiana de Bilac.

O fato é que ele, Dos Anjos é uno, "exclusivamente único" como ele próprio diria,  ao ponto de ter sua obra classificada por muitos que não o alcançam e entendem, de antipoesia.

Eu, particularmente, o considero muito avançado para o público  de sua época que até o rejeitou e o coloco como um pré-modernista realista do século retrasado, que ousou nos temas e no vocabulário.

O soneto que publico hoje, "Psicologia De Um Vencido", é um protesto que publico porque fala por mim e por meus sentimentos se o assunto é a política ou os próprios políticos.

Idealista incorrigível, nesse campo sempre propugnei por um Brasil líder, forte, autossuficiente, capaz de proporcionar uma qualidade de vida excepcional aos nossos irmãos brasileiros...

No entanto, eu, que transitei por tantos caminhos e descaminhos, me relacionei com políticos do Oiapoque ao Chui, de Contamana ao Cabo Branco, este, coincidentemente, na terra natal de Dos Anjos, e  experimentei todas as ideias e ideologias, de meu tempo útil aos dias de hoje, quero lhes dizer algo muito importante para as novas gerações:

Sou um decepcionado completo com a política e com os políticos, e confesso-lhes a minha decepção com a maldita classe que, pouco a pouco, vai liquidando com o Brasil.

O fato é que sai um entra outro é nada muda. Continua tudo do mesmo jeito nas administrações -permitam-me o trocadilho- de "sujeitos sem predicados", "objetos diretos" de nossas decepções.! Nenhum deles se salva, nenhum!

Em mais de 50 anos de militância na vida e na política, sempre com participação desinteressada, espontânea e bem-intencionada , com N convites envolvendo até pagamentos em espécie de altas somas para eu que me candidatasse, sai ileso das tentações e, definitivamente, desisti.

Lamentavelmente os homens sérios e bem-intencionados que encontrei na política não dariam para que eu os contasse nos dedos de u'a só mão e todos eles deixaram a atividade precocemente por compreenderem que nada podiam fazer num universo de bandalheiras em que vorazes apetites individuais se sobrepõe completamente aos interesses do povo.

Quando vejo pessoas de bem defendendo cafajestes e vendilhões da pátria só me resta mesmo evocar o estro de Dos Anjos e declamar:

  
Psicologia de um vencido
  Augusto dos Anjos

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

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