Observatório Alviverde

14/04/2011

A INUTILIDADE E O PERIGO DO “OLÉ”!

 

O velho vício de administrar vantagem, se exibindo e dando olé em vez de buscar os gols, dificulta, mais uma vez, a vida do Palmeiras.

Como é que o time pode recuar tanto, atrair o adversário contra sí, abdicar de jogar e passar a atuar, taticamente, como time pequeno, explorando exclusivamente os contrataques, se não tem jogadores capazes de fazer o jogo vertical em alta velocidade? 

Esse é meu unico e exclusivo reparo ao time de Felipão.

Se o time está jogando bem, se envolve o adversário, atuando de uma determinada forma, por que mudar tão drasticamente a maneira de jogar a partir da construção de um placar favorável?

É inadmissível que após estabelecer 2 x 0, e jogando muito, mas muito mais, mesmo, do que o adversário, que o Palmeiras, de uma hora para outra, tire o pé do acelerador, abdique de atacar e desista de fazer mais gols, oferecendo um latifúndio de terreno e um amplo espaço ao adversário, para trabalhar a bola, atraindo-o, suicidamente, contra o seu próprio campo.

Assisti ao jogo pelo Sportv, e quero dar um crédito ao comentarista Carlos Eduardo Lino, pois não costumo surrupiar os pensamentos luminosos de ninguém.

Lino discerniu e definiu, brilhantemente, o que ocorria em campo, num momento em que Felipão, desesperado com a visível queda de produção e com o mau rendimento do time no 2º tempo, cuspia cobras, marimbondos e escorpiões. inconformado com a postura relaxada e descontraída da equipe após a construção do enganoso placar de 2 x 0.

Lino disse, com muita argúcia, lucidez e percepção dos fatos, algo mais ou menos assim:

“Felipão sabe das limitações de seu grupo e quer que o time jogue ligado no jogo o tempo inteiro mas o jogadores estão querendo relaxar e administrar o placar. Isso é muito perigoso para o Palmeiras!”

Acertou na mosca!

O placar de 2 x 0 proporcionou ao time a falsa sensação “de já ganhamos”, passando a se preocupar, muito mais, em tocar descontraidamente a bola, administrar o resultado e se exibir para a torcida, do que em fazer mais gols, ampliar o marcador e, aí sim, administrar o jogo da volta, quinta-feira que vem no Pacaembu.

Lino também disse que o Palmeiras nunca consegue ganhar com folga e estabelecer vantagens amplas, mesmo quando tudo conspira a seu favor. Outra verdade que Lino descobre e constata, mas, certamente, não sabe explicar, pelo pouco tempo de rodagem na observação do futebol de São Paulo.

A ele e a tantos, volto a dizer que o Palmeiras, de 1950 até hoje, exceção feita à “Primeira Academia” de Julinho e Djalma Santos & PHDs,  e àquele fantástico time da Parmalat de Evair, Edmundo, Rivaldo & Cia, foi um time que nunca privilegiou o ataque e teve sede de gols.

Isso tudo transformou-se em uma cultura, em um traço, em uma característica, para o que contribuiu o pesado rótulo do inesquecível Tomas Mazzone de “A Gazeta Esportiva” batizando o Palmeiras de Academia, isto é o time que joga mais bonito, que dita cátedra e ensina o jogo de bola.

Nossa torcida gostou e adotou o termo transformando-o na perifrase que todos conhecem. Houve uma identificação de nossa torcida com a expressão e de tal monta que ninguém admite que o Palmeiras jogue pelo resultado e pelos títulos, abdicando de jogar bonito. Talvez eu e meia dúzia de gatos pingados sejamos as exceções.

Quantas vezes eu disse neste espaço que a nossa torcida, de um modo geral, gosta muito mais do drible, da firula, da caneta, do chapéu, do colpo di tacco, da bola na trave e do olé, do que do gol.

Infelizmente, a maldita mania do olé, a pedido das arquibancadas tem nos tirado vitórias, classificações e títulos.

Como me irrita ver o Palmeiras empacado, horizontalizando o jogo para que babacas nas arquibancadas fiquem gritando “olé”.

Ontem, quando Valdívia fez aquela jogada de efeito entre três adversários e tocou de calcanhar para, se não me engano, Tinga, eu senti que o Palmeiras não iria segurar a onda e que, para não fugir à nossa sina, à nossa tradição de entrega de jogo ganho, sofreríamos mais uma vez.

Foi uma jogada magistral, genial, espetacular que só os grandes craques sabem fazer, mas absolutamente vã, inútil, desnecessária.

Naquele momento, ainda havia muito tempo e muito jogo pela frente.

O placar era de 2 x 0 e, por isso, me assustei,

As grandes viradas do futebol ocorrem, sistematicamente, sobre esse placar e um lance daquele poderia mexer com o ânimo, com o brio e com o moral do adversário que, fatalmente, cresceria em campo. Não deu outra!

A reação do banco do Santo André, de total revolta contra Valdívia, motivou, a partir daí, outra caçada ao Mago, como já ocorrera no primeiro tempo.

Quando Scolari retirou Valdívia de campo, muitos babacas da mídia certamente disseram que era para que ele, como aconteceu, fosse ovacionado e recebesse os afagos da torcida.

Conversa fiada, essa! Primeiro porque Felipão não é Luxemburgo.

Segundo porque o nosso experiente treinador passou a temer pela integridade física de  Valdívia que já houvera levado um pisão forte no pé.

Terceiro porque Valdívia estava jurado de “quebra” pelo banco do Santo André e se permanecesse em campo, correria o risco de contundir-se seriamente e ficar fora dos jogos decisivos do Paulistão e da Copa do Brasil.

Ao menos para alguma coisa serviu esse cochilo da equipe; para provar que Felipão não abre mão do foco e da concentração da equipe no jogo, do começo ao fim.

Críticas feitas, vamos falar do que foi bom…

Foi bom ver Deola, mais uma vez, fechando o gol e defendendo todas as bolas possíveis. Que não seja cobrado pelo gol sofridol Mandem a conta para Thiago Heleno, mal posicionado, que marcava Anderson em linha sabendo que a bola seria alçada na direção dele.

Cicinho, a consagração do bom e barato com critério, jogou demais no primeiro tempo, sobretudo quando partiu para o apoio. Fez jogadas pelo flanco direito mas nunca havia ninguém posicionado para o arremate, pois o Palmeiras joga sem centro-avante de referência.

Quando Wellington Paulista entrou, já era tarde, pois Cicinho, em função do recuou inexplicável da equipe, não era mais ala, simplesmente lateral.

Danilo foi o melhor dos zagueiros e Thiago Heleno não foi bem quanto o fora nas partidas anteriores. Rivaldo, mais uma vez, foi o Rivaldo dos altos e baixos, acertando e errando, ganhando e perdendo, mas sempre lutando, correndo e dando tudo de sí.

Márcio Araújo, o versátil, o polivalente, cumpriu excelente atuação. Se a maior parte da equipe jogou bem, exclusivamente, no primeiro tempo, Araújo jogou bem o tempo todo.

No primeiro tempo foi perfeito no primeiro combate e teve chances para municiar o ataque, chegando e encostando com a eficiência e personalidade de sempre;

No segundo tempo trabalhou forte na defesa, sobretudo no complicado trabalho de cobertura. Foi um dos grandes destaques do jogo.

Marcos Assunção lutou, correu e, como um dos líderes de Felipão dentro de campo, cumpriu com presteza e suficiência o seu papel. Ressalte-se que Assunção melhorou muito na parte física na mesma medida em que parece ter perdido a eficiência nas bolas paradas. Foi substituido por Chico, aos 40 do segundo tempo.

Luan, talvez o melhor preparo físico  do time, correu do começo ao fim, lutou bastante, mas é um jogador tecnicamente limitado. Do ponto de vista tático, preenche as expectativas de Felipão e cumpre papel importante.

Valdívia joga muito, mas a turma da imprensa não quer admitir que ele é um dos maiores craques em atividade, atualmente, no futebol brasileiro.

Mais uma vez o Mago jogou um bolão e mostrou que o time com ele é um, muito melhor e, sem ele é outro, bem inferior, porque ele faz, mesmo, a diferença. Foi substituido, exclusivamente, por precaução e, certamente, será poupado do jogo de domingo em Campinas contra a Ponte.

Quando Wellington Paulista entrou em lugar de Valdívia, aos 34 do 2º tempo eu me lembrei de uma frase do saudoso Jair da Rosa Pinto, grande craque Palmeirense das décadas de 40 e 50.

Humberto Tozzi, velocíssimo, ainda hoje a maior média de gols com a nossa camisa, foi contratado pela Lazio em uma transação milionária para a época.

Ao tomar conhecimento da transação, Jair proferiu a seguinte frase, repetida até os dias de hoje. “ Levaram a flexa mas se esqueceram do arco”. O arco era ele, Jair, o maior lançador da história do futebol brasileiro, a quem a história não fez justiça até hoje, porque foi ele o jogador que meteu todas as bolas para Pelé se tornar artilheiro e atingir a consagração.

Os imbecis da mídia, que não conhecem a história, dizem que foi Mengálvio HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA.

Dorval, Mengálvio Coutinho Pelé e Pepe é a segunda fase do Santos, no início dos anos 60s.

A linha que consagrou Pelé, antes da Copa de 58 era esta: Dorval, JAIR, Pagão ou Del Vechio, Pelé e Pepe.

Por quê não reconhecem o que o próprio Pelé reconheceu no livro “Eu Sou Pelé” da importância de Jair da Rosa Pinto, o lançador que o projetou no futebol brasileiro, o mais importante em sua trajetória, quando ele ainda era conhecido como gasolina?

Ninguém sabe por quê? Simplesmente porque Jair fez nome no futebol paulista jogando pelo Palmeiras e jogador do Palmeiras nunca valeu nada para a maior parte da mídia. A história comprova o que afirmo!

Com perdão pela digressão, volto ao jogo para dizer o seguinte:

Deixei dois jogadores do Palmeiras para analisar no fim deste “romance” alviverde que tive o prazer de escrever: Kléber e Tinga.

Sintetizando, eu diria que Kléber foi a personagem do jogo, pelos dois penaltis perdidos, e pela recuperação em tempo recorde do desperdício dos dois lances, quando assinalou dois incríveis gols sequenciais, em tempo recorde.

O primeiro no rebote do goleiro após Kléber bater o primeiro penal. Foi um lance de muito reflexo, poder de antecipação e velocidade de nosso atacante.

O segundo, após a cobrança do córner cedido pelo goleiro quando defendeu o segundo penalti batido por Kléber. João Vitor entrou no lugar de Kléber aos 46 do segundo tempo.

Mas o craque do jogo, sem qualquer dúvida foi Tinga.

Seu trabalho tático estratégico foi perfeito, impecável e sua atuação individual, espetacular.

Tinga marcou, Tinga lançou, Tinga chegou, Tinga chutou, arrematou, revesou com Cicinho,  movimentou-se muito, tocou de primeira, deu agilidade, presença e velocidade ao time.

Parece que, devagarinho, ele vai reencontrando o futebol que jogava na Ponte e que motivou a sua contratação pelo Palmeiras.

Fico muito feliz em conceder a Tinga a nota máxima do jogo, em função de tantas críticas que já fizemos a esse jogador.

Isso prova que as nossas observações estão corretas e que o time de Felipão está crescendo, encorpando, recuperando jogadores até então sem moral e tem tudo para nos proporcionar muitas alegrias neste ano de 2011. Que assim seja!

TELEVISÃO

Ontem havia em BH três opções para quem quisesse assistir pela TV ao Santo André e Palmeiras: Sportv, com Jota Júnior, Band, com Luciano do Vale e ESPN com Palomino.

A Globo transmitia o Cruzeiro x Estudiantes, mas ainda que fizesse o jogo eu jamais ouviria Kléber Machado, Casagrande e Arnaldo.

Palmeirense que se preza só os vê ou ouve se não houver outra opção. Se houver, qualquer outra é sempre melhor para a nossa saúde e para o nosso estômago..

Com o controle remoto em mãos, estava disposto a transitar pelas três transmissões. Assim, sintonizei, primeiro, o Sportv 39.

Jota Júnior, Lino e Cereto trabalharam tão bem e tão profissionalmente que sequer acionei o botão de meu controle remoto por uma única vez. Permaneci o tempo todo no Sportv. Eles deram um “Showcolate”. A transmissão foi espetacular!

Assim, consegui a um só tempo, livrar-me do facciosismo e da troca de nomes de Luciano, da chatice de Neto ponta-de-gol e do antipalmeirismo conveniente de PVC.

E a noite foi completa. O Verdão ganhou bem e encaminhou a sua classificação para a sequencia da Copa do Brasil, amém!

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